Depois de na segunda-feira a NASA ter explicado a missão que pretende enviar um novo robô para Marte, no dia seguinte a agência espacial norte-americana e a parceira europeia ESA aclararam os contornos da missão que vai recuperar as amostras extraídas pelo robô e enviá-las para a Terra para serem estudadas.
O investigador Chris Herd, da Universidade de Alberta, no Canadá, que trabalha nesta segunda missão, lembrou, respondendo aos jornalistas, que sem a análise das amostras de Marte em vários laboratórios na Terra não é possível ter a certeza se contêm vestígios de vida microbiana.
A astrobióloga Lisa Pratt, que trabalha no departamento de proteção planetária da NASA, assegurou que as amostras vão estar devidamente seladas, evitando a sua contaminação à chegada à Terra.
A Mars 2020 Perseverance, que será lançada na quinta-feira, será a primeira missão a recolher amostras de solo e rocha de Marte.
O veículo robotizado tem seis rodas - incluindo quatro dianteiras e traseiras que permitem controlar a sua trajetória - e está equipado com vários instrumentos e uma broca. O seu local de destino em Marte é a cratera Jezero, onde terá havido um lago e um delta (foz de rio).
A Mars 2020 Sample Return (Retorno de Amostra) é uma missão mais complexa e demorada, que complementa a Mars 2020 Perseverance.
Inclui o envio para Marte de um outro veículo robótico, de quatro rodas, concebido pela Agência Espacial Europeia, que vai recuperar as amostras recolhidas e deixadas na superfície marciana pelo robô Perseverance e acondicioná-las num recipiente.
Uma sonda, também da ESA, posicionada na órbita do planeta, vai receber o recipiente com as amostras entubadas e enviá-las rumo à Terra.
Na missão, o papel da NASA será garantir que o robô europeu aterra em Marte, através de uma plataforma, próximo da cratera Jezero, onde se encontra o robô Perseverance, e recupera as amostras deixadas na superfície do planeta.
À agência espacial norte-americana compete ainda assegurar o transporte do recipiente com as amostras entubadas num pequeno foguetão que descolará de Marte e irá ao encontro da sonda europeia.
A NASA também irá liderar a operação da entrada e recolha em segurança na Terra da cápsula que se libertará da sonda europeia com as amostras marcianas.
Segundo a cronologia estipulada, a missão Mars 2020 Sample Return inicia-se em julho de 2026, com o envio de um segundo robô para Marte, onde deverá aterrar em agosto de 2028.
Segue-se, em outubro de 2026, o envio da sonda, que chegará à órbita de Marte em 2027.
O pequeno foguetão que transportará o recipiente com as amostras descolará da superfície de Marte (onde estava desde 2028) na primavera de 2029 para se posicionar na órbita do planeta e ir ao encontro da sonda, que recolherá o recipiente com as amostras.
Só em 2031 a sonda estará nas condições mais propícias para empreender a sua viagem de regresso à Terra, com as amostras de rochas de Marte a chegarem à Terra, numa cápsula, na primavera de 2032.
Na superfície de Marte existem atualmente dois objetos exploratórios, ambos operados pela NASA: o Curiosity, um veículo robótico com um laboratório que analisa localmente amostras de solo e rocha para atestar se Marte teve condições para albergar vida microbiana, e o InSight, uma sonda equipada com uma broca e um sismógrafo para estudar o interior do planeta.
Apesar de inóspito, Marte é considerado o planeta do Sistema Solar mais parecido com a Terra. Estruturas geológicas demonstram que, há muito tempo, água líquida, elemento fundamental para a vida tal como se conhece, abundava na superfície do 'planeta vermelho'.
De acordo com os cientistas, o planeta teve, no passado, um oceano maior do que o Ártico.
Estudos apontam, com base em observações feitas em órbita e na superfície, para a presença de água líquida salgada e gelada em Marte.
Na sua primeira missão dedicada à astrobiologia, a Mars 2020 Perseverance, a NASA vai procurar sinais (químicos) de vida microbiana passada em Marte, caracterizar o clima e a geologia do planeta e, assim, abrir caminho para o envio de astronautas para a sua superfície, uma ambição que os Estados Unidos pretendem concretizar depois de conseguirem ter novamente astronautas na Lua (a primeira missão tripulada de regresso à Lua, depois da última em 1972, está prevista para 2024).
O Japão planeia, em menos tempo, enviar uma missão robótica para Marte em 2024 para extrair amostras da superfície do planeta e transportá-las para a Terra em 2029.