O futuro de Donald Trump joga-se desde esta quarta-feira na Câmara dos Representantes e nos ecrãs das televisões de milhares de lares norte-americanos. O arranque das audições públicas e televisionadas marca uma nova e crucial fase do processo de destituição do presidente e constitui uma cartada decisiva para os democratas, que precisam de convencer a opinião pública da culpa de Trump.
Esta é a quarta vez na História dos Estados Unidos que um presidente é alvo de um processo de ‘impeachment’. Nenhum foi destituído.
Para afastar um presidente é necessária uma maioria de dois terços no Senado. Com a atual maioria republicana naquela câmara, o processo parece condenado à partida. A única hipótese dos democratas é provarem perante a opinião pública que o presidente abusou do poder que lhe foi conferido pela Constituição ao pressionar a Ucrânia para investigar o rival democrata Joe Biden. Para isso, precisam de construir uma acusação sólida e convencer a opinião pública de que Trump é culpado, já que só uma grande pressão popular poderá fazer ceder os republicanos no Senado.
As audiências públicas que esta quarta-feira começaram visam isso mesmo, ao chamar a depor mais de uma dezena de testemunhas-chave, incluindo diplomatas e antigos membros da administração Trump, para consolidar a narrativa de que o presidente foi muito além dos seus poderes ao ameaçar um importante aliado com a retenção da ajuda militar americana se não se comprometesse publicamente a investigar Biden, seu potencial adversário nas eleições de 2020, obtendo desta forma vantagens políticas pessoais.
"Se isto não é uma conduta merecedora de destituição, o que é?", perguntou esta quarta-feira o democrata Adam Schiff no arranque das audiências, dirigindo-se não só aos presentes na sala mas também aos milhões de americanos nas suas casas, aqueles que vão decidir se Trump é ou não culpado.
"Investigação a Biden era o mais importante"O atual embaixador dos EUA na Ucrânia, William Taylor, e o vice-secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Europeus, George Kent, foram esta quarta-feira as estrelas do primeiro dia de audiências públicas do processo de destituição de Trump. Ambos já tinham sido ouvidos à porta fechada no mês passado e esta quarta-feira repetiram aquilo que já tinham dito aos membros da comissão. Taylor confirmou a existência de "dois canais de diplomacia relativamente à Ucrânia, um oficial e outro irregular".
Este último, afirmou, era liderado pelo advogado de Trump, Rudolph Giuliani, figura central na pressão a Kiev. Taylor adiantou ainda um dado novo, ao revelar ter tido conhecimento de uma conversa ocorrida a 26 de julho em que o embaixador dos EUA na UE, Gordon Sondland terá dito que, para o presidente, "a investigação a Biden era mais importante do que as relações com a Ucrânia". Já Kent, reiterou no seu depoimento que não considera correto que os EUA "peçam a outros países para se envolverem em investigações políticas seletivas contra opositores do presidente".
Antes, na abertura dos trabalhos, o democrata Adam Schiff já tinha acusado o presidente de "explorar a vulnerabilidade de um aliado para o convidar a interferir nas eleições americanas", além de condicionar atos oficiais, como o envio de ajuda militar, "à disposição da Ucrânia em colaborar numa investigação que ajudaria a sua campanha de reeleição". Do lado republicano, o congressista Devin Nunes considerou o processo como um "teatro televisivo orquestrado pelos democratas" e uma "sequela de baixo orçamento" da investigação à ingerência russa nas presidenciais.
Absolvido de perjúrio e obstrução à JustiçaBill Clinton foi alvo de destituição em 1998 por mentir sob juramento sobre o seu relacionamento com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky. Foi considerado culpado de perjúrio e obstrução à Justiça pela maioria republicana da Câmara dos Representantes mas absolvido de ambos os crimes no Senado.
Salvo por um votoAndrew Johnson foi alvo de ‘impeachment’ por demitir o Secretário da Guerra em 1867, mas escapou por um voto.
Demitiu-se antesRichard Nixon só não foi destituído por causa do caso Watergate, em 1974, porque se demitiu antes.