Mensagens trocadas entre o então juiz Sérgio Moro e o chefe dos procuradores da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, reveladas pelo site The Intercept, mostram que o magistrado, alegadamente, interferia nas investigações do Ministério Público e que a Lava Jato tinha dúvidas quanto às provas que levaram o ex-presidente Lula da Silva para a prisão.
Numa das mensagens sobre Lula atribuídas a Dallagnol, o procurador duvida da fiabilidade das provas sobre o suposto recebimento pelo ex-presidente de um apartamento tríplex como luvas da construtora OAS, caso em que foi condenado por Moro em 2017, e, por isso, aconselha que todos os envolvidos afinem o discurso para não deixarem transparecer as dúvidas.
Já em mensagens de 2018, ano das Presidenciais que elegeram Jair Bolsonaro, procuradores da Lava Jato articulam-se para evitar que Lula dê entrevistas na prisão, com o receio, explícito nessas mensagens, de que as declarações do ex-presidente pudessem ajudar a eleger o seu sucessor na disputa, Fernando Haddad.
Noutras mensagens, o próprio Moro questiona Dallagnol por estar há 29 dias sem desencadear uma nova fase da Lava Jato, enquanto em outros textos indica pessoas que poderão estar dispostas a falar ou a fazer acordo, numa atitude considerada antiética no Brasil para um juiz que, pela lei, tem de manter equidistância entre acusação e defesa.
O Ministério Público estuda abrir investigação para apurar a conduta de Dallagnol, e no Congresso partidos já se articulam para convocar Moro - atual ministro da Justiça - a dar explicações, mas ambos negaram terem cometido irregularidades e o ex-juiz chegou a acrescentar que qualquer possível conduta menos adequada não representa nada diante do serviço que a Lava Jato prestou ao Brasil.
SAIBA MAIS 8 anosLula da Silva foi presidente do Brasil entre 2003 e 2011. Os seus mandatos destacaram-se pelas políticas de desenvolvimento e inclusão social, incluindo a criação dos programas Bolsa Família e Fome Zero.
Condenado por corrupçãoEm julho de 2017, o ex-PR foi condenado pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, por ter recebido um apartamento tríplex como luvas da construtora OAS. Pena foi agravada para 12 anos e um mês em segunda instância.