Quando o arguido chegou ao Supremo Tribunal Estadual acompanhado da mulher, Anne Sinclair, não eram ainda 11 horas (16 horas em Lisboa) e já as agências noticiosas avançavam revelações surpreendentes sobre a empregada do Sofitel de Manhattan que desencadeou o caso, revelações essas que poderiam lançar por terra a acusação e devolver Strauss-Kahn à liberdade. Cerca de uma hora depois, o que se esperava foi confirmado e o ex--presidente do FMI foi libertado, apesar de continuar sem passaporte e proibido de sair dos EUA.
Durante a audiência, o Ministério Público transmitiu ao juiz Michael Obus as suas dúvidas sobre a empregada, que tem sido identificada como Nafissatou Diallo, uma guineense de 32 anos. Segundo os investigadores, "não há dúvida de que houve contacto sexual" com o ex-chefe do FMI, mas há agora boas razões para duvidar da versão das coisas narrada pela vítima.
Desde logo porque, um dia antes da alegada agressão, telefonou a um homem detido por posse droga e, durante a conversa, que está gravada, discutiu as eventuais vantagens de acusar Strauss-Kahn.
Descobriu-se, além disso, que nos últimos dois anos várias pessoas depositaram na sua conta cerca de 100 mil dólares. Aos investigadores, disse desconhecer os depósitos, para depois alegar que foram feitos pelo suposto noivo e alguns dos seus amigos.
Para cúmulo, mentiu até em relação ao pedido de asilo nos EUA. Disse ter informado as autoridades de que tinha sido violada na Guiné e que tinha sido alvo de mutilação genital. Acontece que nada disto consta dos registos oficiais.
Perante os fortes indícios de que a alegada violação não passou de uma trama para extorsão de dinheiro, a defesa pediu a anulação do caso. O juiz não acedeu ao pedido, pelo menos para já, e ordenou um novo exame às provas. "Não haverá pressa para finalizar o julgamento", frisou Michael Obus, "os investigadores continuarão o seu trabalho e examinarão as provas de forma adequada".
NAFISSATOU DIALLO: ALEGADA VÍTIMA DE STRAUSS-KAHN
A alegada vítima de Dominique Strauss-Kahn, uma mulher de 32 anos, é, segundo alguns ‘media’ norte-americanos, Nafissatou Diallo, natural da Guiné-Conacri. A empregada do Hotel Sofitel de Nova Iorque suspeita de ter sido alvo de tentativa de violação e de outros crimes sexuais alegadamente cometidos pelo ex-líder do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi, desde logo, apontada como uma pacata imigrante africana que residia com uma filha no Bronx.
LÍDERES FRANCES REAGEM ENTRE JÚBILO E EXPECTATIVA
Até ser detido em Nova Iorque por suspeita de agressão sexual, em 14 de Maio, Strauss-Kahn era um dos potenciais candidatos socialistas à presidência da França. Ontem, ante a reviravolta no caso, os líderes políticos franceses reagiram entre a precaução, a expectativa e o júbilo, havendo até quem defenda o seu regresso à corrida presidencial.
A líder socialista Martine Aubry, que, a par de Ségolène Royal e François Hollande, é agora favorita à nomeação, declarou-se "muito feliz" com o que pa-rece um desenlace inesperado, e antecipado, do julgamento: "Como amiga de Strauss-Kahn, espero que seja o fim do pesadelo."
Num registo semelhante, Jack Lang, antigo ministro da Cultura, afirmou desejar que tenha ainda "um papel de destaque" na campanha e num futuro governo. O centrista Jean-Louis Borloo, ex-ministro do presidente Nicolas Sarkozy, foi mais longe e defendeu o adiamento das primárias socialistas (as inscrições fecham no dia 13), de modo a permitir ainda a candidatura de Strauss-Kahn.
No outro lado do espectro político, o presidente Sarkozy, que alguns consideraram o maior beneficiário com a detenção de Strauss--Kahn, pois perdia um potencial adversário, não reagiu às notícias. Fontes do Eliseu limitaram-se a dizer: "Sobre este caso, sempre tivemos a mesma posição: não fazer qualquer comentário."
CHRISTINE LAGARDE SUCEDEU A DSK Á FRENTE DO FMI
Na sequência do escândalo Strauss-Kahn, foi apontada para a sucessão do veterano político e economista a ministra francesa das Finanças, Christine Lagarde, que acabou por ser eleita, na passada terça-feira, nova directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI). Christine Lagarde, que no mês passado participou na conferência do Banco Africano de De-senvolvimento, em Lisboa, reuniu, desde logo, fortes consensos internacionais para assumir o cargo.