Vivo entre dois mundos: o que não pode dispensar o humor – nada supera uma boa gargalhada – e aquele que não suporta a piadola vulgar, forçada e de mau gosto. Faço, assim, por ignorar os contadores de anedotas que por aí pululam e que, julgando ter graça, ganham uns trocados ‘amandando’ bojardas.
Coisa diferente é a utilização cáustica da palavra – como denúncia, desafio e provocação. E, claro, como exposição e exploração do ridículo e do absurdo. Vejo esse exercício de volta, na SIC, com ‘Som de cristal’, de Bruno Nogueira, que trocou o guião elaborado pelo aproveitamento inteligente de momentos banais que sublinham a autenticidade da vida e o prazer lúdico que dela podemos retirar.
É um programa divertido, esse, em que o humorista invade o planeta ‘cromático’ dos cantores populares de Rolex – e aquele ‘cantinho’ brutal do Quim Barreiros? – para confirmar a sua qualidade na complexa arte de divertir, desta vez recorrendo apenas ao tempo e à oportunidade. Um verdadeiro achado.