Desenvolvimento ferroviário é uma questão central da competitividade do país.
Antes de mais, uma declaração de interesses: Viseu é um dos concelhos que mais poderão ganhar com os investimentos futuros no sistema ferroviário do Centro-Norte de Portugal.
Isso acontecerá, todavia, independentemente da opção recair sobre a construção da ligação Aveiro-Vilar Formoso (que tenho defendido) ou, em alternativa, sobre a reabilitação da antiga linha da Beira Alta (que excluo pelo simples facto de me parecer económica, logística e tecnicamente indefensável).
Para mim, contudo, esta não é, nunca foi, nem será uma questão local.
O desenvolvimento ferroviário é uma questão central da competitividade do país, das suas regiões industriais e exportadoras (do Centro-Norte, precisamente) e da coesão nacional. (Li recentemente que este pulmão económico do país pode viver de uma "logística facilmente resolvida com camiões". É este discurso que faz o país abrandar!)
Chamo o tema à conversa porque os últimos dias trouxeram notícias contraditórias.
Depois de sabermos que o Governo candidatou a fundos europeus o estudo técnico da linha Aveiro-Vilar Formoso, viemos a saber que "provavelmente" a decisão da sua execução será apenas tomada pelo próximo Governo.
Pode parecer uma posição sensata, se o país real pudesse esperar. Ou se não nos encontrássemos na iminência de desperdiçar ano e meio de trabalho despendido pelos empresários e autarcas das regiões do Centro-Norte. Ou se em causa não estivessem mais milhões de euros com estudos. (Quereremos alargar ainda o já extenso e milionário cemitério nacional de "estudos" que não serviram para nada? Ou deitar fora o amplo consenso que se gerou?)
Sinceramente, espero que o Governo não ceda às habituais insinuações de interesses instalados na capital ou a discursos atávicos, desviando ou atrasando decisões fundamentais para o "país real" e o país exportador.
Será preciso lembrar que 90% das nossas trocas com a Europa se fazem ainda por estrada? Que o eixo da A25 é o principal canal terrestre de expedição dessas mercadorias, muito à frente da fronteira a sul? Que o Centro-Norte representa 56% das exportações nacionais e tem um superavit de 7000 milhões de euros? Que, finalmente, nestas regiões vivem 6 milhões de pessoas? Pouca-terra, pouca-terra.