Temos a ilusão que os maus-tratos perpetrados a crianças são fenómenos restringidos a comunidades distantes e pouco civilizadas, onde abunda o abandono, a fome, a violência física e psicológica, a guerra, em suma, o desprezo pelos direitos fundamentais das crianças. Mas não.
O flagelo da violência física e psicológica sobre as crianças existe entre nós, quantas das vezes, mesmo à nossa porta, envoltas num silêncio ensurdecedor que a azáfama e o turbilhão diários tornam impercetível. Mas não foi o caso de João Maria que estava à vista de todos.
A nossa Lei Fundamental consagra a família como elemento essencial para o desenvolvimento harmonioso da comunidade, tendo direito à proteção da sociedade e do Estado.
No preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança lê-se que a família é o elemento natural e fundamental da sociedade e meio natural para o crescimento e bem-estar de todos os seus membros e que a criança, para o de-senvolvimento harmonioso da sua personalidade, deve crescer num ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão.
Que realidade tão distante esta para algumas crianças do nosso país, que nós, enquanto comunidade, não conseguimos proteger.