O meu avô usava um é de hortelã atrás da orelha.
Setembro marca o início das auroras boreais. O leitor, se estiver a sul das ilhas Faroé e no polígono estratégico de Moledo, bem pode olhar para o céu – em vão. Em Outubro, sim, nos picos das Hébridas, a Alta Escócia, podem ver--se com alguma sorte, mas sempre vindas do Norte (das Faroé, da Islândia, da Noruega e da Gronelândia): uma espécie de arco-íris apresentando-se num céu escuro transformado em salão de baile. A nuvem de cor move-se durante alguns minutos no céu, ganhando e perdendo formas, sobre a tranquilidade dos fiordes ou da estepe – do Alasca até às enseadas de Murmansk (para lá de Murmansk e de Novaya Zemlya, a caminho das ilhas Spitzberg, só há dragões). Aprendi isto pelos livros, como quase tudo na minha vida – a experiência não me condecorou com o sinal da sua sabedoria.
O meu avô, administrador de quintas do Douro, tinha por hábito dizer que cheirava ao fim do verão – porque era o elemento mais forte da época no Vale do Douro: o do mosto, as uvas colhidas nas vindimas de Setembro e Outubro, arrastadas até aos lagares, cantadas pelos poetas de antanho. Neste vale profundíssimo, o do Cachão da Valeira, o do Pinhão, o do Vezúvio (onde vagueia, ao crepúsculo, o fantasma de Dona Antónia Adelaide Ferreira, glória do grande rio e das suas vinhas), ou de Barca d’Alva, não há auroras boreais. Estamos, além disso, em fase grande da lua; diz-se que se fecham as corolas da esteva, da carqueja e do que resta das tílias, altas e de folha clara.