O poeta Diogo Bernardes não tem parado de perder leitores.
O velho Doutor Homem, meu pai, dedicava algum interesse à poesia de Diogo Bernardes, poeta que foi outrora uma pérola das nossas selectas e que desde o século XVI não cessou de perder leitores – até não restar senão um reduzido número de admiradores secretos que lhe louvavam, sobretudo, o facto de ter nascido em Ponte de Lima. O Tio Henrique entretinha-se a divulgar, nos serões, o vate de Ponte da Barca, Frei Agostinho da Cruz, também contemporâneo do maior dos poetas, Francisco Sá de Miranda – cuja desdita o acompanhou até ao final dos seus dias, também no Minho, em Amares. Este florilégio de poetas de antanho faz parte das estantes da família desde há muito; conservam-se por hábito e por rezinguice, para provar às gerações presentes e vindouras (a expressão é abominável) que nas nossas províncias houve altíssimas vozes da nossa língua.
A minha sobrinha Maria Luísa, a eleitora esquerdista da família, só recentemente descobriu esses poetas do Alto Minho. Formada, como leitora, a ler romances, foram-lhe durante muito tempo estranhos os versos com rima, assunto e métrica; e, convenhamos, ela tem nisso alguma razão: não se pode pedir a uma senhora romântica educada com o Verão dos areais de Moledo, e na cartilha vintista do Bloco de Esquerda, que se comova com o soneto "O sol é grande, caem com a calma as aves", onde Sá de Miranda chora sobre a passagem do tempo. Isso já não se faz hoje em dia; o tempo passa e é esquecido.
Mas há excepções. A dra. Celina, a nossa bibliotecária de Caminha, pensou convidar o dr. António de Freitas para vir explicar ao litoral minhoto as minudências da Antiguidade. Professor em Braga (e parece que também em Inglaterra, no Chile, na América, pelo mundo fora), o dr. António de Freitas lê e compreende línguas como hitita, o sumério, o sânscrito, creio que o aramaico, o grego certamente, as tabuinhas cuneiformes – e deve achar o latim, por exemplo, um idioma terrivelmente moderno e limitado.