Sísifo é uma personagem mitológica condenada a empurrar uma pedra ladeira acima com a mera força das suas mãos. Assim que chega ao fim, o rochedo resvala, e a maldição obriga-o a recomeçar uma e outra vez, para todo o sempre.
No fim do verão, os casos subiram para a casa dos milhares e os óbitos dispararam. Era a segunda vaga. Foram tomadas medidas restritivas, nomeadamente o recolher obrigatório ao fim de semana. Aos poucos, o número de infeções caiu, mas nunca regressou ao patamar anterior.
Todos os especialistas alertaram que a doença não estava sob controlo.
Mesmo assim, o poder político reduziu as restrições e permitiu reuniões familiares no Natal. Esta janela de facilitismo voltou a agravar os contágios. Chegámos agora ao ritmo regular das 10 mil infeções diárias, e ontem morreram-nos mais de cem pessoas. Eis que estamos outra vez no início da ladeira, à beira do precipício, com novo rochedo para carregar às costas.
Esta sequência infernal de decisões contraditórias já foi aqui designada de "pandemia ioiô". Na verdade, é bem pior. O mito de Sísifo está ao leme do Estado no combate à doença.