O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, expôs ontem a sua visão para os próximos anos da Europa. Foi um discurso importante, que merecia uma leitura atenta e nacional, não fosse o distanciamento crónico dos cidadãos (e não só dos portugueses) relativamente às questões europeias.
E vale a pena começar por aqui. Ciente desse afastamento e das acusações (justas, em muitos casos) de falta de democracia e de representatividade das instituições comunitárias, Juncker é certeiro ao dizer que é preciso "ganhar o coração dos europeus", e avança com propostas concretas a nível institucional, como a existência de um presidente único à frente da UE.
Lembrou também que "a Europa é mais do que um mero mercado único, mais do que dinheiro, foi sempre uma questão de valores", destacando a solidariedade posta à prova na crise migratória, a vocação da Europa enquanto refúgio dos perseguidos ou os direitos dos cidadãos.
Mas a mensagem de Juncker renova também a esperança e a ambição de uma Europa mais forte, mais aprofundada, mais interventiva, e também "menos ingénua", aproveitando o bom momento económico que se vive no continente. E até de uma Europa mais alargada, se bem que não para já.
Este estímulo à revitalização e à liderança europeias – seja na indústria, no comércio, no combate às alterações climáticas, na segurança - é particularmente importante se pensarmos que há um ano a UE se encontrava próxima de um estado catatónico, a digerir o golpe do Brexit.
Juncker não se ficou na identificação dos problemas e propôs mudanças, traçou prioridades, lançou desafios. Se é tudo viável, desejável e exequível, provavelmente não será. Vai ser preciso conhecer a fundo cada proposta e avaliar.
Contudo, se nos conseguir pôr a discutir a Europa que temos e a Europa que queremos é já um mérito indiscutível. Não deixemos cair esta discussão.