A recente divulgação do relatório e contas da SAD do FC Porto veio colocar a nu a realidade financeira da sociedade que gere o futebol do clube. Havia indícios claros de que qualquer coisa de muito preocupante estava para acontecer e a maior de todas essas pistas foi a demissão do administrador Antero Henrique, um homem com 26 anos de ligação aos dragões, em setembro último. Antero estava descontente com o modelo de gestão adotado, um paradigma que culminou com três anos de insucesso desportivo. Ao invés, nesse período, o clube foi campeão dos pagamentos feitos em forma de comissões a empresários, mais de 20 milhões de euros só nos últimos dois anos.
Na justificação das más contas, o administrador Fernando Gomes explicou que os quase 60 milhões de euros no vermelho se devem a uma opção estratégica: "A equipa técnica e administração entenderam que, num momento em que ainda não estava garantido o acesso direto à Liga dos Campeões, a venda [de jogadores] seria um duro golpe no percurso desportivo desta época."
Chama-se a isto fugir para a frente. Mas pior ainda é a pressão que é atirada (ou será sacudida?) para cima do treinador. E assim, Nuno Espírito Santo carrega um ónus terrível. No relvado, à chuva e ao frio, o técnico terá de conseguir aquilo que os gestores não foram capazes de fazer no luxo dos gabinetes. E já sabe que se não ganhar, será a ele que lhe irão pedir explicações. Enfrentar cada jogo com este peso sobre os ombros deve ser uma coisa terrível.