Conheci Ayad Allawi em Nova Iorque na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Conheci o primeiro-ministro iraquiano, Ayad Allawi, em Nova Iorque na Assembleia Geral das Nações Unidas. Nesse período em concreto – estávamos em setembro de 2004 – havia alguns sinais de esperança numa possibilidade de normalização no processo de reconstrução e reorganização do Iraque. Esse primeiro-ministro de um Governo de transição foi aceite com mais ou menos tolerância pelas várias partes envolvidas naquele processo.
Falava aos seus homólogos com uma mensagem de paz e sublinhando sempre a esperança que tinha no futuro do seu país. Dizia-nos a todos que estava a trabalhar para a paz e pedia ajuda. Recorde-se que a invasão do Iraque tinha começado cerca de um ano antes e, como é sabido, todo esse processo de derrube de Saddam Hussein e dos seus colaboradores foi uma fase muito intensa de captura de ministros ou dirigentes políticos do regime deposto, dia após dia, semana após semana.
A comunidade internacional queria acreditar que, ajudando, apoiando económica e politicamente o Iraque, seria possível instalar a paz com governantes democraticamente eleitos. Encontrei meses mais tarde esse simpático e voluntarioso primeiro-ministro em Bruxelas, durante uma reunião do Conselho Europeu. Continuava firme e determinada na sua saga de reunir apoios para o processo de regeneração nacional que tentava liderar. Digo que tentava liderar porque naquela altura, como hoje, as divisões entre grupos rivais, nomeadamente xiitas, sunitas e curdos, iam causando violentos contratempos e muitas perdas de vidas.
Durante um tempo, depois de terem decidido intervir no Iraque, as forças dos países da coligação pareciam ter um controlo maior da situação e conseguiam assegurar a paz nas principais cidades do país, nomeadamente, no interior do perímetro da cidade de Bagdad.
Sabe-se como tudo evoluiu e como o passar dos anos levou a que países onde o Ocidente agiu para depor regimes ditatoriais acabaram por ver o Estado a desagregar-se e a violência a proliferar ainda mais. Para além do caso do Iraque, refira-se o que sucedeu na Líbia, em que depois da queda de Khadafi a estrutura do Estado se foi desagregando, existindo atualmente três governos e três capitais. Sabe-se o que se passa também na Síria e percebe-se como o Ocidente tem de refletir sobre as opções que faz no seu relacionamento com outras regiões do mundo, nomeadamente o Médio Oriente.
Síria, Irão, o que sobra do Iraque, Arábia Saudita, Israel, Palestina, Líbano, para não falar da Jordânia e do Egito, é um conjunto muitíssimo explosivo. Passado um tempo, o então primeiro-ministro do Iraque, Ayad Allawi, foi substituído na chefia do Governo e mais tarde, no ano passado, veio a ser designado vice-presidente. É sem dúvida um lutador, um resistente, ao fim e ao cabo, uma pessoa que ama a sua pátria e dá tudo pelo seu futuro.