No dia em que ganhou em 19 das 20 urnas onde entraram os votos de 17 057 sócios do Sporting, o ‘Record’ publicou uma entrevista com Jorge Gonçalves. Dizia-me, a 24 de junho de 1988, o então futuro presidente que o leão estava "velho, desdentado, careca, doente, cheio de carraças e de pulgas", prometendo substituí-lo por um "jovem e dinâmico", capaz de "arranhar qualquer dragão ou águia" da "selva desportiva". Vinte e sete anos depois, Alvalade quer acordar o leão, recorrendo ao cérebro de Jorge Jesus, que é do Sporting desde pequenino, tal como o pai de Carlos Manuel, uma das ‘unhas’ que o antigo campeão nacional de vela – "seis vezes, cinco delas consecutivas", me frisou na mesma entrevista – contratou para um plantel com estrelas que não cintilariam.
Jorge Gonçalves, hábito de velejador, andava sempre na bolina e, por isso, o discurso era acelerado, utópico também, e as escolhas precipitadas. Não se estranhou, pois, o suicídio como dirigente e o inevitável adiamento do despertar do leão. Vinte e sete anos depois, tenho a certeza, continuava a ser bom homem para os outros e mau para ele. E também aposto que, agora, esfregaria as mãos com mais convição, como quem diz: "Este é que vai ser o ano do leão." Se for, não ouvirei o ‘Bigodes’ repetir o que me disse na primeira entrevista que deu como presidente: "Leão é o rei da selva". Era acelerado em tudo...
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