Pode parecer desfocado o facto de, no rescaldo eleitoral dos EUA, se discutir mais o vencido que o vencedor. Mesmo sendo um dos poucos a falhar a reeleição, Donald Trump manteve intacta a base de apoio (quase metade dos eleitores), apesar da mitómana realidade paralela em que se move, do buraco económico para onde arrastou o país e da negligência com que tratou a pandemia.
É uma proeza que não deve ser ignorada.
A América vive hoje numa antinomia menos política e mais socio-ideológica que se traduz na disputa entre o obscurantismo do ‘trumpismo’ e a tolerância prometida de Biden/Harris. Enfrentar a pandemia, repensar um sistema de saúde digno, combater o racismo sistémico, integrar os ilegais, reduzir os 12 milhões de desempregados ou restaurar a confiança dos aliados são alguns dos desafios de Joe Biden.
Uma vida na política deu-lhe as ferramentas para promover consensos e, à falta de uma maioria no Senado, deles precisará.
Ser o Presidente de todos os americanos, como Biden prometeu, exigirá mais do que acordos no Capitólio. Exige perceber o que dá Trump, que outros no sistema não deram, aos 70 milhões que apoiam o ainda Presidente. E o que fará Trump com isso.