"Foi um choque enorme para mim quando cheguei à campa e percebi que tinham colocado um defunto em cima do caixão dela. Quase desmaiei. A minha mulher não é nenhum bicho".
O lamento, emocionado, é de Alfredo Nogueira, que ficou viúvo após a morte de Conceição Nogueira, de 71 anos, em Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira, no passado dia 8 de janeiro.
As cerimónias fúnebres realizaram-se dois dias depois e Conceição Nogueira foi a sepultar numa campa da Junta de Freguesia de Fiães, no cemitério local. Ao fim de duas semanas, Alfredo Nogueira visitou o cemitério e deparou-se com a lápide coberta com ramos de flores. Percebeu então que, dois dias antes, tinha sido realizado um outro funeral e o caixão foi depositado também na campa onde ficou Conceição.
"O presidente da Junta disse-me que tinha de ser assim porque havia falta de terra. Respondi-lhe que há campas onde estão pessoas enterradas há 10 e 20 anos, não era preciso escolher a campa onde a minha mulher estava há duas semanas", explicou Alfredo Nogueira. "Passo as noites sem dormir, não consigo parar de pensar nisto. A maior parte das vezes passo as noites dentro do carro, para me tentar acalmar", contou, desgostoso, o homem, defendendo que a lei fala numa "proibição de abrir os jazigos antes de decorridos três anos".
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Correio da Manhã tentou obter, por telefone e na própria sede, um esclarecimento ou qualquer tipo de resposta do presidente da junta de freguesia, mas tal não foi possível. Já a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira remeteu todos os esclarecimentos precisamente para a Junta de Fiães.