Decorre esta sexta-feira a segunda sessão do julgamento de Maria Malveiro de 20 anos e Mariana Fonseca 24 no Tribunal de Portimão pelos crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver, dois crimes de acessos ilegítimo, um de burla informática, roubo simples e uso de veículo.
As ex-namoradas, uma enfermeira e uma segurança, são suspeitas de terem matado um jovem, em março de 2020, no Algarve, a quem tentaram extorquir dinheiro que tinha recebido de indemnização pela morte da mãe.
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Atualizado a 26 de fev de 2021 | 18:37
Sessão do julgamento termina. A próxima sessão foi marcada para o dia 9 de Março às 9h15.
17:05 | 26/02
Rui Pando Gomes
As contradições
Uma das contradições do relato das ex-namoradas está relacionada com o corte dos dedos. Mariana começou por confirmar que segurou nos dedos enquanto a outra arguida cortava os mesmos. Na instrução e em julgamento, a enfermeira acabou por dizer que foi Maria quem fez tudo sozinha.
A segunda contradição está relacionada com o desmembramento do corpo na garagem. Mariana começou por dizer que estava presente e que tinha ficado debaixo do sensor da luz. No entanto, perante aa instrução e em julgamento, acabou por afirmar que não estava lá.
A enfermeira confirmou na fase de instrução que "viram uma reportagem na televisão e que discutiram na cadeia".
16:52 | 26/02
Rui Pando Gomes
Mariana e Maria falaram na cadeia sobre versões que iriam apresentar em tribunal
Na fase de instrução, Mariana revelou que poderia ter pedido ajuda para travar a morte de Diogo.
A arguida confirmou também durante esta fase de instrução que falava com Maria, na cadeia, durante os almoços, sobre as versões que iriam apresentar.
16:43 | 26/02
Rui Pando Gomes
Mariana confirma as mensagens enviadas através do telemóvel de Diogo
Mariana confirma que utilizaram os dedos para desbloquear o telemóvel em casa, quando os pais estavam na habitação.
"Estávamos no quarto a mandar mensagens aos amigos dando a ideia que ele tinha ido embora", esclarece.
A enfermeira confessa que tinha receio que Maria entrasse em conflito consigo.
De volta ao local do crime, a arguida refere que a namorada lhe pediu para fica a ligar a luz enquanto desmembrava Diogo na garagem do próprio.
"Ela disse-me que tinha cortado a cabeça, as mãos e as pernas e colocou tudo em carros diferentes. Uma noite fomos para Sagres e atirou uma parte do corpo, os telemóveis e os dedos da falésia. O carro dele ficou em Sagres. Voltámos para casa", diz.
As ex-namoradas deslocaram-se um dia depois para Tavira. Foi Mariana quem conduziu o carro até ao Pego do Inferno. "Ajudei a tirar os sacos para fora do carro. Ela [Maria] andou um bocado e atirou os sacos para uma zona onde havia um buraco", conta.
Sobre o dinheiro levantado da conta da vítima, a arguida garante que o mesmo estava "guardado em casa" e que "não foi usado", admitindo no entanto que tinham comprado "um protetor solar e um sabão" com o cartão de multibanco de Diogo.
"Na minha esperança tola ainda pensei que ninguém iria procurar nada na minha casa, para não envolver a minha mãe e a minha irmã", admite.
Mariana, que frequentou o curso de enfermagem na Universidade do Algarve, em Faro, era responsável por tirar ampolas de Diazepan do hospital.
16:38 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Nem em filmes eu vejo coisas assim e fiquei em pânico"
À semelhança do que aconteceu com Maria Malveiro, também é reproduzido o áudio do primeiro interrogatório judicial de Mariana Fonseca, prestado perante o juiz de instrução.
A enfermeira diz que nunca conheceu Diogo e que "só ouviu falar nele". "A Maria falou-me num plano para arranjar mais dinheiro", confessa, acrescentando que esse plano envolvia terceiros.
"Disse-me que ia prender uma pessoa que não tinha pais para a ameaçar e sacar dinheiro. Disse-lhe que não concordava. Disse-me que já tinha a ideia do que ia fazer dois dias antes do crime. Eu arranjava ampolas de diazepan para ela dormir. No dia em que o Diogo faleceu meteu uma corda no carro. Senti-me obrigada a ir porque ele podia fazer-lhe mal. Fiquei no carro e ela foi lá para dentro. Passaram várias horas e ela veio cá fora. Depois eu entrei e já o vi no chão com uma cadeira partida. Ela estava em cima dele a fazer-lhe um golpe. Fiz compressões para ele reanimar e ele acordou", revela.
Mariana admite que o plano não era matar Diogo, mas depois de abandonar a divisão, Maria voltou a apertar o pescoço à vítima at+e esta ficar inconsciente.
"Ele deixou de respirar e entramos em pânico. Ela tinha a faca na mão e disse para lhe segurar a mão dele porque lhe ia cortar o indicador e polegar. Nem em filmes eu vejo coisas assim e fiquei em pânico", admite.
Relata depois a colocação dos dedos dentro do envelope e o pedido de ajuda de Maria para colocar o corpo de Diogo na cadeira.
Colocou os dedos num envelope e pediu-me ajuda para colocar o corpo em cima de uma cadeira com rodas
"Ela colocou o corpo na bagageira do carro dele, um Mercedes. Senti-me impotente porque não consegui que ela mudasse de ideias", diz.
Dirigiram-se depois para Chinicato, onde moravam.
14:40 | 26/02
Rui Pando Gomes
Sessão é retomada
A sessão de julgamento vai ser retomada.
A advogada da família da vítima também aceita dispensar ouvir o casal que encontrou a cabeça de Diogo no Pego do Inferno. Quatro testemunhas arroladas pela advogada da família da vítima são também dispensadas.
12:56 | 26/02
Rui Pando Gomes
Pausa para almoço
Termina a sessão da manhã. Julgamento deverá ser retomado ao início da tarde.
12:42 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Dinheiro que foi levantado não foi gasto"
"Já estava enterrada até ao pescoço e pensei que os levantamentos podiam levar a pensar que tinham sido feitos por outras pessoas", refere a arguida, referindo-se ao dinheiro levantado no multibanco após a morte do jovem. No entanto, Maria garante que "dinheiro que foi levantado não foi gasto".
"Fui ouvida como testemunha antes e não confessei, mas sabia que um dia ia ser apanhada porque fui a locais com câmaras. Fiz isto para proteger as carreiras e a vida de ambas. O dinheiro que levantei não era para usar em nada. Eu não estava contente com a situação mas estavamos a tentar viver com a situação", atira, acrescentando que decorou o código pela sequência.
12:35 | 26/02
Rui Pando Gomes
Arguida tinha os códigos do telemóvel e do multibanco de Diogo
Por esta altura Maria tinha já em sua posse os códigos do telemóvel e do multibanco da vítima.
"Ele emprestou-me dinheiro para comprar uns cabos para instalar um rádio e ele disse-me o código para pagar na loja", acrescenta, referindo mais uma vez que a namorada nunca teve conhecimento do alegado assédio de Diogo a Maria.
12:14 | 26/02
Rui Pando Gomes
"O plano inicial era arrancar-lhe os dentes"
"Comecei a pensar esconder o corpo", continua Maria, revelando que "o plano inicial era arrancar-lhe os dentes". "Era uma coisa de cultura geral. Como a língua dele estava para fora coloquei de parte a ideia de lhe arrancar os dentes. Tinha os resguardos da cadela e coloquei no chão. Cortei a cabeça dele por cima dos sacos. Pedi a Mariana para ficar a acender a luz da garagem que estava sempre a desligar. Eu sei que foi macabro mas estou arrependida para o resto da vida.
A arguida afirma que tirou a cabeça da vítima mais para fora da mala do carro, numa situação que não se revelou "numa coisa fácil".
"O primeiro golpe, isto parece estúpido, mas assustei-me quando vi o cutelo com sangue. Nunca o tirei [corpo] do saco e isolei ao máximo para não sangrar. Depois cortei as mãos. Foi um processo demorado que demorou horas...", continua Maria, referindo que "foi uma vingança ridícula".
A homicida separou ainda as mãos e pés e colocou o carro fora da garagem. "Fomos para casa e não dormi nessa noite. A pensar no que tinha feito", relembra.
Maria revela ainda que roubou o cutelo utilizado para cortar o corpo quando passou nas caixas rápidas do supermercado de um pagar. "Sou segurança e sei como as coisas funcionam", diz.
Uma noite antes do trabalho, e numa altura em que "já não aguentava mais", Maria pediu à namorada para conduzir o carro dela até ao forte do Beliche. Maria seguia ao volante da viatura de Diogo.
"Arrastei o tronco dele do carro e atirei-o pela falésia junto com os telefones e os dois dedos. Deixei a viola e os computadores no carro dele e levei-o até junto da fontaleza. Estava a enlouquecer e já não aguentava mais. Eu sabia que poderia ser encontrado", diz.
Apesar de não se considerar profissional, a arguida afirma que se deixou levar pelo stree.
"Coloquei o saco da cabeça no meu carro e voltámos para casa. A Mariana só me queria proteger e nunca me impediu. Lembrei-me do Pego do Inferno porque tinha estado lá com a Mariana antes. Pensei jogar a cabeça para a água mas depois atirei-a para o mato. Ela rolou no chão e depois atirei os braços e as pernas para o mesmo local".
12:04 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Como não era só eu nunca me entreguei à polícia"
"Nada disto foi planeado e não sabia o que estava a fazer", admite Maria Malveiro, que encostou a parte traseira do carro perto da casa do jovem.
"Fui buscar uma cadeira com rodas que ele tinha no quarto e consegui sentar o corpo na cadeira para o levar para o carro. Coloquei o corpo na bagageira e depois fui limpar a sala. Como tinha dito ao chefe do Diogo numa mensagem que ia viajar lembrei-me de ir buscar ao quarto algumas roupas e coisas dele", revela.
Entre os vários objetos estava o baixo (instrumento musical de Diogo) e também os dois computadores.
As arguidas dirigiram-se depois para a localidade de Chinicato, em Lagos. "Levei os telemóveis e os dedos para casa e respondi às mensagens da tia e de um amigo. Senti logo arrependimento e nunca mais fui a mesma desde aquela altura", admite.
"Como não era só eu nunca me entreguei à polícia", considerando que era "tarde de mais para confessar" o crime.
11:54 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Consegui cortar o polegar e o indicador"
Sobre os códigos para aceder ao telemóvel da vítima, Maria revela que se inspirou numa série para lhe cortar os dedos e ter acesso ao celulas.
"Fui ao carro buscar a faca e coloquei papel debaixo da mão dele e comecei a cortar o polegar dele. Para minha surpresa consegui...", confessa, acrescentando: "Consegui cortar o polegar e o indicador que eram os dois que ele usava para desbloquear o telemóvel. Para um telemóvel era o polegar e para o outro era o indicador. A Mariana estava em choque."
A arguida diz que não estava si quando cometeu o crime. "Só pensei em cortar-lhe os dedos e depois desfazer-me do corpo. Até lá tinha que manter a vida social dele ativa para não levantar suspeitas. Pensei em tudo sozinha", afirma. Acabou por guardar os dedos num envelope dos CTT que encontrou no quarto.
11:38 | 26/02
Rui Pando Gomes
A descrição do dia do crime
"Eu não o queria assassinar mas sim humilhá-lo", reforça a arguida, afirmando que obteve o medicamento, Diazepan, através da namorada enfermeira, Mariana, que não saberia do plano.
Combinou um encontro com Diogo e levou-lhe sumo de laranja com o fármaco dissolvido. A arguida afirma que muniu-se de uma faca que tinha no carro e que transportava no bolso durante o trabalho para se defender.
A vítima terá revelado à agressora os planos para comprar casa.
"Depois do almoço peguei numa cadeira e disse para ele se sentar e amarrei-o com as braçadeiras. Fui ao carro dizer à Mariana que estava tudo bem e ela quis entrar comigo. Viu-o preso", admite.
"Fiz-lhe um mata leão como aprendi no curso de segurança mas ele deu luta. Ele caiu no chão e eu comecei a sufocá-lo porque a Mariana estava ali presente. Comecei a fazer manobras de reanimação mas no sitio errado. Depois a Mariana ajudou-me e conseguiu reanimá-lo. Quando acordou agarrou no braço dela e com o braço livre acertou-me. Perdi o bom senso e civismo e voltei a sufocá-lo", declara, acrescentando que o fez para proteger a namorada.
"Queria protegê-la e voltei a sufocá-lo para depois chamar a polícia. A Mariana estava em pânico e assustada. Nunca tinha feito isto a uma pessoa antes. Pedi à Mariana para ver os sinais vitais e ela disse que estava morto. Não chamei as autoridades porque não queria estragar a carreira da Mariana. Eu sei que o que fiz foi errado. Sentei a Mariana no sofá e disse-lhe que ia resolver a situação."
E continua: "Tinha de proteger a Mariana porque ela não tinha culpa de nada. Ela estava em choque a chorar. A culpa foi minha ela não fez nada. Ela tentou salvá-lo ao fazer a reanimação. Momentos depois o telefone começou a tocar e eu pensei que tinha de continuar a vida social dele. Nunca pensei fazer aquilo. Coloquei a minha relação à frente dos meus valores. Pensei mais nela do que em mim."
11:22 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Colocou uma das mãos dentro das minhas calças": As declarações de Maria Malveiro
As juízas decidiram ouvir as declarações das arguidas em primeiro interrogatório judicial para avaliar as contradições.
A arguida começa por dizer que conehceu Diogo em 2019.
"Deixei claro que só tinha uma relação de amizade com o Diogo mas ele colocou-me a mão na perna e eu disse-lhe que não estava interessada em homens", revela Maria, que acrescenta: "atirou-me para cima da cama e colocou uma das mãos dentro das minhas calças".
A jovem afirma que a vítima lhe confessou que só gostava de mulheres "porque nunca tinha experimentado uma boa picha...".
Os episódios descritos em primeiro interrogatório judicial terão ocorridos dias antes do crime.
"Senti-me humilhada naquele dia e não consegui ultrapassar aquela situação", confessa Maria Malveiro.
A arguida afirma que não revelou o caso a ninguém e que não apresentou queixa porque não tinha provas e trabalhava no mesmo hotel que a vítima.
Os encontros continuaram mas, garante Maria, "nunca sozinhos". "Mandava-me mensagens todos os dias e acho que ele estava obcecado por mim", acrescenta.
Diogo revelou à jovem que ia receber uma indemnização. "Eu não o queria assassinar mas sim humilhá-lo", admite.
11:13 | 26/02
Rui Pando Gomes
Testemunha multada após falhar sessão
Uma das testemunhas não compareceu ao julgamento e será multada por não apresentar justificação.
10:56 | 26/02
Rui Pando Gomes
Colega de trabalho de Diogo revoltado com morte de jovem
Está agora a ser ouvido um colega de trabalho de Diogo. João Paulo Marques refere que ficou triste e revoltado com a morte do jovem porque "era uma pessoa que se podia contar para tudo e muito jovem".
10:50 | 26/02
Rui Pando Gomes
Casal de franceses dispensado
Procurador dispensa as testemunhas que encontraram a cabeça da vítima no Pego do Inferno, em Tavira. As duas testemunhas são turistas de nacionalidade francesa e japonesa.
10:41 | 26/02
Rui Pando Gomes
Diogo mantinha relação próxima com mãe
A testemunha revela que existia uma relação muito próxima de Diogo com a mãe antes desta morrer, vítima de atropelamento. O pai estava separado da mãe e tinha sofrido um AVC.
Cabrita explica à advogada da família da vítima que Diogo foi viver com uma tia materna depois da morte da progenitora. Mudou-se depois para casa de um amigo.
O advogado refere que a vítima "não fazia mal a ninguém" e que era um homem "com objetivos de vida".
10:40 | 26/02
Rui Pando Gomes
"Disse-me que estava a sair com uma segurança e estava animado": Advogado de Diogo
Diogo recebeu 70 mil euros e revelou que pretendia utilizar o dinheiro para comprar uma casa. Segundo o advogado, inquirido pelo procurador do Ministério Público, o montante foi depositado de uma só vez.
O advogado revela que recebeu uma mensagem de Diogo, no dia 5 de Fevereiro de 2020, onde a vítima afirmava que o banco o tinha avisado de que o dinheiro já estava disponível na conta. O advogado defende ainda a teoria de que todos os amigos de Diogo sabiam da existência do dinheiro.
Cabrita revela que falou com Diogo sobre "miúdas". "Disse-me que estava a sair com uma segurança e estava animado", afirma, acrescentando que denunciou o desaparecimento do jovem à GNR.
10:22 | 26/02
Rui Pando Gomes
Arranca o julgamento no Tribunal de Portimão
Arranca o julgamento após contratempos com o advogado oficioso de uma das arguidas.
Está a falar a testemunha João Cabrita, que foi advogado da vítima quando Diogo Gonçalves recebeu a indemnização pela morte da mãe. O advogado afirma que falou com o jovem um mês antes do homicídio, no seu escritório.
Advogada de Maria Malveiro não estará presente na sessão
A advogada de Maria Malveiro, Tânia Reis, pediu escusa e não estará presente na sessão desta sexta-feira, alegando problemas de saúde.
Foi nomeado um advogado oficioso que se encontra já no tribunal, a interceder para defender a arguida.
09:24 | 26/02
Rui Pando Gomes
Primeira sessão marcada por contradições
A primeira sessão do julgamento, que decorreu na passada quarta-feira, ficou marcada por contradições de Mariana, que acabou por negar a versão apresentada inicialmente de que tinha estado junto de Maria no momento do desmembramento do corpo do jovem, numa garagem.
Maria remeteu-se ao silêncio nesta primeira audiência.
Maria Malveiro e Mariana Fonseca já estão em tribunal
As arguidas já chegaram ao tribunal de Portimão, separadas em duas carrinhas celulares.
O advogado de Mariana também já está em tribunal.
Testemunhas ouvidas esta sexta-feira
Durante a manhã desta sexta-feira serão ouvidas seis testemunhas arroladas pelo Ministério Público (MP).
O casal de turistas franceses, que encontraram a cabeça do jovem assassinado, também será ouvido por videoconferência.
Na parte da tarde serão ouvidos amigos de Mariana.