Vai ser "colossal" o rombo financeiro na Igreja Católica portuguesa, por causa das restrições impostas pela pandemia de Covid-19. Com a anulação de celebrações, festas e romarias e o fecho de igrejas e santuários, a quebra de esmolas e oferendas, entre 15 de março e 15 de maio, deverá ser superior a 55 milhões de euros.
Os bispos portugueses estão preocupados, consideram que a ação caritativa da Igreja pode vir a conhecer um retrocesso sem precedentes e admitem, inclusive, que alguns padres (os que vivam exclusivamente da atividade de pároco) possam vir a passar necessidades.
"É claro que esta crise está a colocar problemas à sustentação do clero, particularmente nas dioceses e nas situações em que não há uma equitativa remuneração mensal garantida e em que os sacerdotes vivem dos donativos do povo santo de Deus", disse ao Correio da Manhã D. José Cordeiro, o bispo de Bragança-Miranda. Já o bispo do Porto, D. Manuel Linda, diz que ainda não lhe chegou qualquer pedido de ajuda, mas que, se for necessário, "a diocese e as suas estruturas ajudam até à fronteira do possível".
Os dados não são fáceis de aferir, mas do contacto com mais de duas dezenas de párocos de todo o País, concluiu-se, por exemplo, que mais de metade dos católicos que costumam pagar a côngrua (o valor de um dia de trabalho) na altura da Páscoa, este ano, devido ao afastamento da vida da Igreja, acabarão por não o fazer. Só neste particular, o prejuízo será superior a 33 milhões de euros.
De resto, não havendo missas, não há peditórios nem estipêndios das intenções; sem fiéis nos santuários, não caem esmolas nas caixas; sem festas e romarias, não há donativos para templos e confrarias; e sem Compasso Pascal não houve folar para o pároco.
13 de Maio em Fátima será sem multidões
Apesar de a abertura às celebrações religiosas poder ocorrer nos primeiros dias de maio, a peregrinação aniversária da primeira aparição em Fátima, no dia 13, mantém-se cancelada. É que, atendendo à dimensão do recinto (onde podem concentrar-se cerca de 400 mil pessoas), não seria possível criar condições para a prática do necessário distanciamento social. Assim, poderá operar-se apenas uma alteração, ou seja, a celebração prevista para a Basílica do Rosário poderá ocorrer na da Santíssima Trindade.
As paróquias de Lisboa custam por mês 400 mil euros
A diocese de Lisboa evitou o layoff e mantém abertos todos os serviços paroquiais. O Patriarcado diz que "os encargos com o trabalho nas 285 paróquias são superiores a 400 mil euros por mês". Para D. Manuel Clemente, "o sustento da Igreja continua, como sempre, a advir da generosidade dos fiéis".