Camilo de Oliveira, que morreu sábado à noite, em Lisboa, aos 91 anos, "era um ator com quem era fácil trabalhar, pois sabia muito bem o que fazia e era um grande profissional", disse a atriz Alina Vaz.
"Não imagino vida mais completa: profissionalismo exemplar, amores totais, caráter, verticalidade e alguns inimigos de estimação pelas razões certas", escreveu Herman José na sua página de Facebook, pouco tempo depois de a imprensa ter dado a notícia da morte do ator.
Morreu um dos maiores decanos da interpretação
O investigador Luciano Reis considerou Camilo de Oliveira um dos maiores decanos da história do teatro e da interpretação em Portugal, que atuou em quase todos os teatros no país e nas ex-colónias.
"É um exímio na arte de representar, nomeadamente no campo da farsa, da comédia", disse à agência Lusa o académico, acrescentando que o ator foi também "um bom construtor de textos" e dirigente de atores.
"Deixou um vasto acervo", afirmou Luciano Reis, recordando também as muitas peças de televisão protagonizadas pelo ator, que morreu no sábado, aos 91 anos.
Vítor de Sousa diz que ator era garantia de divertimento
O ator Camilo de Oliveira era "um carimbo de garantia de que as pessoas se iam divertir, rir a bom rir, gargalhar", afirmou o ator Vítor de Sousa, recordando uma vida dedicada ao teatro e à comédia.
"Muitas pessoas saíam de casa sem saber o nome da peça ou da revista em que ele participava, mas como era com o Camilo de Oliveira era para divertir e isso acontece com poucas pessoas. Era um carimbo de garantia de que as pessoas se iam divertir, rir a bom rir, gargalhar e tinham no Camilo essa garantia", declarou Vítor de Sousa, reagindo à morte do ator Camilo de Oliveira.
O ator Vítor de Sousa considerou "triste ver partir um excelente profissional, exigente, com um feitio às vezes um pouquinho difícil, a quem se deve uma vida recheada de trabalho". "A quem devemos uma grande ovação e um grande agradecimento pela dedicação ao teatro e às pessoas que gostavem dele", declarou.
Vítor de Sousa recorda-se especialmente de ter trabalhado com Camilo de Oliveira no Sabadabadu foi um programa da RTP, que foi para o ar em 1981.
"Foi uma experiência maravilhosa, o programa teve na altura imensa audiência e foi um trabalho excelente. Recordo-me especialmente do Camilo a fazer o tão divertido padre Pimentinha, de que eu era sacristão", recordou.
"Era um homem muito amado"
A cantora e atriz Simone de Oliveira recordou o comediante Camilo de Oliveira como um homem bom, com um temperamento por vezes "nada fácil", mas muito amado por todos.
"Trabalhei muito com ele, o Camilo foi o ator que foi, todos sabemos, viveu uma vida boa e longa", disse Simone de Oliveira à Lusa.
Simone afirmou que Camilo de Oliveira não era "um colega fácil", recordando que tiveram muitas discussões, mas que "tudo passou".
"Era um homem muito amado por todos, se existe algum lugar lá em cima, espero que esteja num lugar bom", declarou a artista.
O ator Camilo de Oliveira morreu no sábado à noite, aos 91 anos.
Segundo fonte familiar, o ator, que dedicou a vida à comédia portuguesa, morreu no sábado às 20h10 em Lisboa.
De acordo com a mesma fonte, está prevista uma cerimónia na Basílica da Estrela na terça-feira.
Ator "difícil dentro do palco", mas "gentleman" fora dele
O ator Camilo de Oliveira, que morreu no sábado à noite, em Lisboa, "dentro do palco era difícil, fora dele era um 'gentleman' e tinha imensos amigos fora do meio teatral", disse à agência Lusa a atriz Florbela Queiroz.
Florbela Queiroz, que contracenou com Camilo de Oliveira em "Quando ela se despiu", afirmou que deve ter sido "a atriz que mais vezes contracenou" com Camilo de Oliveira, que apontou como "um amor de pessoa fora do palco".
"Dentro do palco tínhamos de saber lidar com ele, com aquela mania exagerada da perfeição e do profissionalismo, às vezes era difícil, apesar de nos termos sempre dado muito bem, pois no fundo o que ele queria era um bom espetáculo", afirmou Florbela Queiroz, que contracenou com Camilo de Oliveira em várias revistas e comédias.
O Camilo de Oliveira, realçou a atriz, "era um excelente ator, um grande profissional de teatro, e cá fora era divertido, um 'gentleman', ia para a pesca com as pessoas, era um amor de pessoa".
"Foi um dos atores mais populares que o teatro conheceu", rematou.
"Vedeta durante quase meio século"
O ator Alberto Villar considerou que Camilo de Oliveira "foi uma absoluta vedeta durante quase meio século, com uma popularidade igual ou até maior que Raúl Solnado e Eugénio Salvador".
Alberto Villar realçou à agência Lusa "o profissionalismo" de Camilo de Oliveira, com quem contracenou em peças que estiveram mais de um ano em cena, como "Duas pernas e um milhão", ou "Como vencer na vida sem fazer força", cujo elenco incluiu ainda António Calvário e Nicolau Breyner.
O ator Alberto Villar, que também trabalhou com Camilo de Oliveira na televisão, recordou que chegou a atuar com Camilo, no Porto, numa noite de Natal, com a comédia "Duas pernas e um milhão" e com a sala "a mais de metade".
Villar dirigiu Camilo na revista "Mulheres é comigo", que estreou em fevereiro de 1973, no extinto Teatro Monumental, em Lisboa, com um elenco que incluiu também Aida Batista, Linda Silva, Cristian Cassola e Vitória Maria, entre outros.
O Camilo de Oliveira "tinha uma enorme cumplicidade com o público, que gostava mesmo muito, muito, dele".
"Era um ator 100% profissional, mas tinha uma comunicação muito grande com o público", disse.
Para Alberto Villar, "dadas as suas características especiais, que alardeava", Camilo de Oliveira "era também uma personagem de si próprio".
Alberto Villar contracenou Camilo de oliveira também na peça "Isso não se faz á tia", que "teve um grande êxito de público".
Ator disciplinado, com enorme respeito pelo público
O ator Camilo de Oliveira era "uma pessoa muito disciplinada, com um enorme respeito pelo público", disse à agência Lusa a atriz e sua ex-mulher Io Appolloni.
A atriz conheceu Camilo de Oliveira em 1965, quando fez parte do elenco da revista "Sopa no mel", no Teatro Maria Vitória, no Parque Mayer em Lisboa.
Io Appolloni recordou que, nessa revista, num número que fazia com Camilo de Oliveira, 'o guarda de Alfândega', "a plateia vinha abaixo todas as noites, pelo hilariante que era, pois ele aproveitava todos os momentos que pudesse [para] sacar uma graça".
"Eu aprendi muito com o Camilo", disse Io Appolloni, que esteve casada com o ator durante sete anos e do qual tem um filho, Camilo.
"Tivemos uma vida turbulenta, mas ficou sempre uma enorme amizade", realçou.
Camilo de Oliveira "viveu para o teatro, nasceu num teatro, e dedicou-se por inteiro, com grande profissionalismo, ao teatro, sempre com alta qualidade, porque ele era um profissional muito a sério, não permitia aos colegas que brincassem com o público, porque é com o público que temos aquela troca energética", disse.
Emocionada, a atriz citou uma carta que, a 15 de março de 2015, enviou ao ex-marido, que estava internado, no sentido "de lhe dar uma alegria", na qual afirmou: "Obrigado Camilo pelo prazer que nos deste, pelas gargalhadas que nos provocaste, pelo deslumbramento que provocou as tuas composições [de personagens], memorável o [general] Ramalho Eanes, só para citar um exemplo".
Na mesma missiva afirmou: "Nunca te esqueceste que o teu alvo era o público, nunca te preocupaste em agradar aos críticos e tinhas razão, o público é mais importante que os críticos, os críticos deram o braço a torcer com [a tua composição] Tótó, afora divinizada".
"És amado, respeitado, o teu público nunca te virou as costas, porque tu nunca o defraudaste. Amor com amor se paga, pois então", terminava a carta.