Crítica de cinema: Três Cartazes à Beira da Estrada
O crítico Pedro Marta Santos escreve sobre "o primeiro grande filme de 2018"..
Pedro Marta Santos / SÁBADO
4 de Março de 2018 às 23:12
O que mais impressiona neste terceiro filme escrito e dirigido pelo londrino Martin McDonagh é aquilo que opta por não ser. Três Cartazes... foge das classificações como o diabo da cruz, e a sua natureza híbrida é pessoal e intransmissível - McDonagh escreve como um viciado em bourbon com tempo a menos e leituras a mais, e a sua mistura de negríssimo humor (já destacável no inaugural Em Bruges), de drama familiar e de surdo pathos constitui uma voz única, como a dos irmãos Coen - com quem partilha o calmo desespero das personagens e o gosto pelas tragédias ridículas da América redneck -, a de Sean Baker ou a de Jeremy Saulnier.
Frances McDormand, no seu melhor papel ao lado de Fargo e de Olive Kitteridge, é Mildred, funcionária numa loja de souvenirs numa terrinha do Missouri, cuja filha foi violada e assassinada há meio ano. A polícia local, liderada pelo xerife Willoughby (Woody Harrelson), nunca encontrou o culpado, e Mildred farta-se, exigindo explicações em três cartazes abandonados. Willoughby está a morrer de cancro no pâncreas, o seu ajudante, Dixon (Sam Rockwell, outro inesquecível figuraço), um racista que ainda vive com a mamã hillbilly, perde a cabeça todos os dias, o filho de Mildred morre de vergonha da férrea impulsividade da mãe, cada momento dramático suscita a gargalhada e qualquer passagem cómica resulta pungente.
Crítica de: Pedro Marta Santos
Nota: 4 Estrelas
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