A notícia da morte de Guida Maria, esta terça-feira, aos 67 anos, apanhou o meio artístico de surpresa. Entre os colegas da atriz, poucos eram os que sabiam que desde o verão que travava a mais inglória batalha da sua vida, depois de lhe ter sido diagnosticado cancro no pâncreas. A dura perda foi confirmada pelo encenador António Pires, após a notícia ter começado a circular nas redes sociais. "A atriz morreu hoje de manhã [ontem], tranquilamente durante o sono, após ter sido vítima de doença prolongada", fez saber.
A mãe da também atriz Julie Sergeant estava internada há três semanas no Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, a receber "cuidados específicos para minorar a dor, uma vez que já nada havia a fazer para combater a doença", relata fonte hospitalar.
Ontem, família e amigos despediram-se de Guida Maria no velório, que decorreu na Basílica da Estrela, em Lisboa, e onde a filha mais nova, Julie, de 47 anos, era a imagem da dor. Em lágrimas, a atriz teve de ser amparada pelo marido e pela amiga Constança Cunha e Sá para suportar a perda da mãe.
Além da família, foram vários os colegas da televisão, cinema e teatro que não quiseram deixar de prestar homenagem à atriz, que era conhecida por não ter papas na língua, engravidou aos 16 anos e contava, que em vez de mamã, ensinou o filho mais velho a dizer pu** como sua primeira palavra.
Na despedida, todos recordam que Guida Maria viveu intensamente e foi uma mulher que quebrou tabus ao levar a palco a peça ‘Monólogos da Vagina’. "Sempre falei abertamente de sexo. A partir de uma certa idade, o sexo é tão importante como lavar os dentes", dizia a atriz sem preconceitos.
Guida Maria continuava com trabalho regular e, depois do seu último papel – Amélia em ‘A Única Mulher’ – ainda foi convidada para uma nova novela, mas já se encontrando mais magra e debilitada, devido à doença, decidiu recusar. Morreu sem se despedir dos palcos, mas com a consciência de que teve uma vida cheia de felizes recordações.
"Há umas pu*** e uns cabr*** que não fazem nada e tudo lhes cai no prato da sopa. Comigo tudo foi sangue, suor e lágrimas. Mas quantas pessoas adoravam ter a vida que eu tive?", disse numa entrevista à revista ‘Sábado’.
O último adeus a Guida Maria acontece hoje, às 15h00, no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde será sepultada no Talhão dos Artistas.
Uma atriz que ousou fazer tudo o que lhe apetecia
Era filha de um ator e estreou-se precocemente (com apenas sete anos) na representação. Fez o Conservatório, estudou teatro nos Estados Unidos, e entrou para a companhia residente do D. Maria II aos 28 anos, já depois de muito trabalho feito em televisão.
A atriz Guida Maria, que em 1972 surpreendeu o País ao aparecer nua no filme ‘A Promessa’, de António de Macedo, saiu do Teatro Nacional em 1998 e pode dizer-se que começou uma nova carreira, já que passou a usar o seu próprio dinheiro para produzir as peças que queria fazer.
Foi assim que levou à cena espetáculos como ‘Andy e Melissa’, ‘Monólogos da Vagina’, ‘Sexo? Sim, mas com Orgasmo!’ e ‘Zelda’. Quando questionada sobre a sua opção, respondia, com desassombro: "O que é que eu vou fazer? Muitos Planos de Poupança Reforma? Não. Enquanto viver, faço o que gosto."
E fez. Mesmo até ao fim.
Atriz engravidou aos 16 anos
A relação mais mediática de Guida Maria foi com o músico escocês Mike Sergeant, da qual nasceu Julie. Do primeiro filho, Pedro, a atriz engravidou quando tinha apenas 16 anos e, segundo a própria, o seu pai queria que fizesse um aborto.
Com o pai do filho nunca manteve qualquer relacionamento.
Casamento com diretor da SIC
Além de Mike Sergeant, a atriz foi casada com Bastos e Silva [ex-diretor-geral da SIC]. A união durou nove anos e foi o relacionamento mais longo de Guida Maria.