Depois de ter renovado os filmes de gangsters (‘Cães Danados'), as novelas de cordel (‘Pulp Fiction') ou a ação oriental (com o duplo ‘Kill Bill'), era o momento de repensar o western, negro a vários níveis. Em ‘Django Libertado', que chega hoje às salas, o próprio protagonista é um escravo (Jamie Foxx) que se move no meio dos poderosos, graças a artimanhas, pelas paisagens do Mississippi.
É isso que Tarantino procura: como um ilusionista fã de hemoglobina, expõe o lado menos asseado do passado e ainda brinca com isso (às tantas, escuta-se hip-hop na banda sonora...). Com uma narrativa musculada, este é um divertimento ‘politicamente incorreto', dos melhores que o cineasta nos deu.
A obra começa com ‘Django' a libertar-se das grilhetas, graças a um palavroso caçador de recompensas (o brilhante Christoph Waltz), que quer a sua ajuda para identificar um trio assassino. É escusado dizer que a amizade entre os dois cresce e juntos decidem resgatar ‘Broomhilda' (Kerry Washington) das garras de um fazendeiro que fuma cigarro com boquilha e é apreciador de lutas entre escravos até à morte (Leonardo DiCaprio, com a pujança certa de vilão).
Nomeado para cinco Óscares ‘Django Libertado' é um bálsamo de ideias vorazes. Quem for desprevenido vai chocar-se com o banho de sangue do final. Já quem conhece Tarantino percebe que o génio continua retorcido, desejoso de testar limites.