Barra Cofina

Correio da Manhã

Domingo
4

Vasco Gargalo: “Os cartoons são analgésicos para a dor que sentimos"

Cartoonista foi premiado em França.
Fernanda Cachão 17 de Novembro de 2019 às 11:00

Cresceu enquanto cartoonista a "observar cartoons políticos", sempre com um "jornal na cabeça" e depois a dedicação fez dele um dos grandes talentos portugueses, já reconhecidos e publicados internacionalmente. Vasco Gargalo, nascido em 1977, em Vila Franca de Xira, foi distinguido com o Plumes Libres pelo seu trabalho em cima do acontecimento, como se de um jornalista se tratasse, com o cartoon alusivo a Marielle Franco, a vereadora do Rio de Janeiro, ativista dos direitos humanos, baleada na via pública, feito nesse mesmo 14 de março de 2018.

"Georges Wolinski, um dos cartoonistas assassinados no atentado ao jornal satírico ‘Charlie Hebdo’, dizia: ‘O Humor precisa de desgraça para sobreviver.’ As notícias sobre atualidade são a minha agenda, a minha inspiração. Tento manifestar-me todos os dias através do meu trabalho, inspira-me que o público consiga refletir sobre as minhas mensagens através dos meus pensamentos desenhados", disse Vasco Gargalo à ‘Domingo’, revista na qual colabora há vários anos.

A primeira grande publicação internacional foi em 2015, na ‘Courrier International’ francesa. Vasco Gargalo fez uma capa, em novembro desse ano: "Lembro-me dessa primeira publicação como se fosse hoje. O trabalho ‘Aleppo(nica)’ foi um trampolim para a continuidade da internacionalização do meu trabalho. Inspirado na ‘Guernica’ de Picasso, fiz uma reinterpretação sobre a guerra na Síria, para assinalar os cinco anos desta guerra do século XXI. Em 2016, este cartoon foi partilhado por jornalistas de referência internacional, dois diretores da Human Right’s Watch, nas redes sociais, ao mesmo tempo que a cidade de Aleppo era bombardeada na Síria", conta.

O trabalho tornou-se viral nas redes sociais e os convites para vários jornais e exposições em França e Inglaterra não tardaram e continuam até hoje; já em 2019 foi publicado no ‘Le Monde’.

"Não sou daqueles que acham que os cartoons podem mudar o Mundo, sou da opinião de que podem ajudar a   refletirmos sobre os assuntos, e podemos sorrir de assuntos sérios através do humor gráfico, como se fosse um analgésico para uma dor que sentimos. O cartoon pode ser visto como uma arma, como a música ou a literatura são balas de papel. Vivemos tempos difíceis, em que os valores democráticos estão tantas vezes ameaçados e desacreditados. Como cartoonista trabalharei sempre em prol da liberdade de expressão e da Democracia", diz quem encontra no filho a força para continuar a lutar por estes valores.

Na adolescência, quando "sentiu que queria ser cartoonista" - uma profissão precária e pouco valorizada, para preocupação do seu próprio pai -, só com persistência conseguiu que fossem publicados os primeiros cartoons em jornais. O ingresso no The   Cartoon   Movement,   um   site com cartoonistas do Mundo inteiro, acabou por ser fundamental. "Neste momento colaboro com o Correio da Manhã e com a revista ‘Sábado’, trazendo alguma estabilidade profissional, mas esta profissão será sempre de risco."

Ver comentários
C-Studio