No Boletim Económico divulgado nesta quinta-feira, 6 de outubro, o banco central estima que a economia portuguesa cresça 6,7% este ano, mais 0,4 pontos percentuais do que o antecipava em junho, "continuando a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado". Mas o mesmo documento alerta que "o impacto dos choques adversos que ocorreram ao longo do ano será mais notório em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa da atividade económica face a 2022" e que as perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa se deterioraram.
"A recuperação mais forte da atividade em 2021 e na primeira metade de 2022 — revelada pelas contas nacionais mais recentes — supera a revisão em baixa na segunda metade de 2022", refere o BdP no Boletim Económico de outubro, divulgado nesta quinta-feira, 6 de outubro.
Ou seja, depois de a economia ter regressado aos níveis pré-covid logo no primeiro trimestre, a partir daí houve uma desaceleração, e que se traduz numa "relativa estabilização do PIB" até ao final do ano, espera o banco central.
Se por um lado o enquadramento externo e financeiro tem vindo a piorar pelos aumentos da inflação e das taxas de juro, com efeitos adversos sobre o rendimento disponível real, por outro o "bom desempenho" do mercado de trabalho está a atenuar esses efeitos negativos no PIB.
Poupanças e apoios 'seguram' consumo
Ao mesmo tempo, a entidade liderada por Mário Centeno destaca a "resiliência" do consumo privado. Isso está a acontecer não só pela "
canalização para a despesa de parte da poupança acumulada pelas famílias durante a crise pandémica, bem como das medidas de apoio".
Aliás, o banco central destaca mesmo que, depois de terem justificado a melhoria acentuada da atividade económica na primeira parte do ano, as famílias estão a revelar uma "maior resistência" aos choques. O BdP estima que o consumo cresça 5,5% este ano (mais 0,3 pontos do que o esperado anteriormente).
A revisão em baixa do crescimento económico na segunda metade do ano deve-se, então, mais ao abrandamento do investimento do investimento. Se em junho a estimativa era que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) avançasse 5%, agora é que cresça apenas 0,8%.
Em causa está a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), não só pela via pública como pela privada, que a primeira metade do ano ficou muito abaixo do previsto para o conjunto deste ano. A evolução do consumo público foi revisto em baixa, para 2%.
Já as exportações de bens e serviços mantêm um dinamismo elevado (17,9%), acima da procura externa, implicando ganhos adicionais de quota de mercado. "Esta evolução é impulsionada pelas exportações de serviços, em particular os relacionados com o turismo", explica o BdP.
Mitigar impacto da inflação
O Banco de Portugal admitiu ainda que poderão ser necessárias mais medidas de mitigação do impacto da inflação, mas alerta que devem ser temporárias, específicas e dirigidas aos mais vulneráveis.
"A política orçamental deverá atender ao facto de os choques sobre os preços não afetarem da mesma forma todas as famílias ou empresas/setores de atividade", assinala o BdP.
A instituição lidera por Mário Centeno, admite que neste contexto "medidas temporárias e específicas para amortecer o seu impacto sobre os segmentos mais vulneráveis poderão ser necessárias, em particular numa inversão do ciclo económico".
Além disso, o documento sublinha que ser "urgente acelerar a prossecução das reformas no âmbito do PRR e promover uma utilização efetiva e eficaz dos respetivos fundos, para sustentar o crescimento económico no curto e médio prazo".