"É uma prática que vem muito de trás e que se tem mantido. De facto, progressivamente, diferentes entidades vão publicando e o Montepio também o passará a fazer", disse Virgílio Lima, em entrevista à Lusa, quando questionado sobre se não significa falta de transparência a mutualista não divulgar informação sobre quanto ganha cada administrador.
No relatório e contas da mutualista, a informação das remunerações apenas aparece agregada. Em 2020, segundo o documento, os órgãos de gestão da mutualista receberam 2,043 milhões de euros de remunerações (e outros benefícios de curto prazo), a que se somam gastos de 964 mil euros com pensões de reforma e subsistema de saúde e encargos de 421 mil euros com a Segurança Social.
Segundo Virgílio Lima, na divulgação dos salários também há a questão da proteção de dados, mas considerou que se tendo tornado prática divulgar essa informação a mutualista também o fará: "É algo que naturalmente reveremos no futuro, entendemos que numa gestão de rigor, com transparência, com verdade, faz sentido".
Questionado sobre quanto ganha o presidente da mutualista, o gestor disse que não o quer divulgar enquanto a prática não for alterada: "Não gostaria de entrar em questões individuais e não é por proteção pessoal, fá-lo-emos quando na aprovação do relatório e contas tomarmos a deliberação de fazer essa informação", disse.
Contudo, afirmou que os membros dos órgãos de gestão do grupo Montepio "não estão -- longe disso -- nos níveis mais elevados dos respetivos setores", mas também afirmou que é importante o grupo ser competitivo nas remunerações para ter bons gestores.
"Se queremos ter qualidade, temos de oferecer valores em conformidade com o mercado e essa tem sido a nossa prática e a nossa preocupação", vincou.
Virgílio Lima tem um percurso de mais de 40 anos no grupo Montepio. Em 2016 passou a administrador da mutualista, tendo em 2020 assumido a presidência, quando sucedeu a Tomás Correia, que saiu envolto em polémicas. As eleições de 17 de dezembro para os órgãos associativos da mutualista Montepio são, portanto, a primeira vez que se apresenta a votos como candidato a presidente.
Apesar de ter feito parte da equipa de Tomás Correia, Virgílio Lima disse estar "confortável" e que, enquanto ambos integraram a mesma equipa, muitas vezes discordaram em questões de gestão: "Não coincidimos na visão sobre muitas das questões do grupo, coincidimos noutras", contou.
E recordou Virgílio Lima que Tomás Correia veio dizer, em declarações ao Jornal Económico, que não apoia a sua lista, considerando mesmo que "não surpreende" essa declaração do ex-presidente do Montepio.
Já questionado sobre se ficou magoado por Tomás Correia ter vindo dizer que não apoiava a sua lista, quando lhe sucedeu, o gestor recusou: "De modo algum, diria que era previsível".
As eleições de 17 de dezembro para a Associação Mutualista Montepio Geral vão eleger o Conselho de Administração, o Conselho Fiscal, a Mesa da Assembleia-Geral e a Assembleia de Representantes para o mandato 2022-2025.
A Assembleia de Representantes é o novo órgão da mutualista (que substitui o Conselho Geral), ao abrigo dos novos estatutos, contando com 30 membros eleitos por método de Hondt, pelo que é previsível que integre representantes das várias listas concorrentes.
Questionado sobre se admite plataformas de entendimento com uma ou várias listas concorrentes, uma vez que será nesse órgão que serão debatidos e votados documentos fundamentais para a mutualista (como orçamento e plano de atividades), Virgílio Lima disse que nessa divisão não antevê problemas, pois as pessoas que integrarão a Assembleia de Representantes acompanham de perto a vida da mutualista, são bem informadas e preparadas e todas têm interesse no melhor para o Montepio.
"Não vejo que seja problema, todos defendem o mutualismo e no essencial irá obter-se-á seguramente acordo sobre questões-chave sobre o futuro da instituição", disse.
A Associação Mutualista Montepio Geral tem 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, em que se inclui o Banco Montepio.