Desafiámos o criador Gio Rodrigues a fazer uma projeção da moda em Portugal daqui a 10 anos.
CM – Haverá uma ou várias modas neste futuro próximo?
Gio Rodrigues – Cada vez mais somos seres individuais, não queremos ser iguais aos outros. E embora os influencers, os designers e os stylists nos façam criar várias modas, cada um de nós tem uma personalidade muito forte e acho que a roupa é uma forma de exprimir este caráter e é uma forma de estar na vida. Haverá, cada vez mais, modas e as pessoas vão procurar a que se adapte à sua forma de estar.
- Linhas sóbrias ou informais?
- Sóbrias. Vamos querer entrar outra vez no minimalismo. Acho que numa primeira fase vamos passar por uma grande excessividade, mas vamos apostar em bons cortes, com maior durabilidade. Embora cada um tenha um determinado tipo de estilo, a roupa tem que ser mais rentável e ter maior durabilidade.
- Quais as cores dominantes?
- O branco. Acho que vamos entrar numa era de paz. Ainda assim, e com o avanço tecnológico na moda, acho que vamos ter peças que alteram a sua cor e que são mutantes. Talvez peças que mudem de cor conforme o estado do tempo ou peças em que possamos, com um simples clique de um botão, alterar a cor de branco para vermelho.
- Vamos assistir a um regresso ao passado?
- O passado é sempre uma inspiração da atualidade. A nossa história faz-nos ir repescar ideias ao passado e transpô-las para a época em que vivemos. Julgo que daqui a 10 anos o passado estará bem presente, quem sabe se as minissaias, os calções ou até um look mais anos 80 não voltam a estar em voga? 2030 será um ano bastante diferente do que vivemos agora.
- O que vão calçar as pessoas?
- Pelo que se vê, acho que as pessoas vão optar, no geral, por calçado mais confortável. Agora, uma coisa que adorava ser eu a inventar, era uns stilettos confortáveis, isso sim, seria um sucesso mundial.
- Que novos materiais poderão surgir?
- Materiais cada vez mais autossustentáveis, eco-friendly. Acho que caminhamos para uma consciência de que o mundo precisa que tomemos conta dele e que não o prejudiquemos. E esta mentalidade está cada vez mais presente nestas novas gerações. Vamos encontrar materiais que sejam biodegradáveis, que o tratamento dos mesmos não seja poluente e que seja reciclável.
- A moda será acessível a todos?
- Haverá moda para todos os escalões. Cada vez mais é possível comprar roupa boa a preços mais económicos. Hoje, a roupa acaba por ser tornar um status e uma diferenciação das pessoas. Não compramos uma peça apenas para nos proteger do frio ou para ficarmos frescos no verão, mas sim para termos autoconfiança, para nos sentirmos bonitos e mais fortes. Por isso acho que vai haver preços para todas as bolsas, não vai ser generalizado.
- A nível de penteados, o que há ainda por fazer?
- Vamos ter cabelos cuidados e alternativos a nível de corte, sem dúvida, talvez entrar numa onda mais futurista.
PERFIL
Gio Rodrigues nasceu a 7 de dezembro de 1975 e viveu em Lisboa até à adolescência, local onde iniciou o fascínio por moda. Inserido numa família com conhecimento geral ligado à ‘arte’ de costurar, a avó materna cedo lhe passou o espírito da criação, do molde e o fascínio pelas texturas e cores dos tecidos. Com 14 anos deslocou-se para norte, estudando em Viseu e seguindo o secundário no curso de Arte e Design. Mais tarde tirou um curso de modelação na Escola de Moda Gudi, no Porto. n