Muitos dos 215 ucranianos entregues a Kiev por Moscovo, na grande troca de prisioneiros de guerra mostravam sinais de tortura. Um ex-fuzileiro contou como foram os dias em cativeiro, na prisão de Olenivka em Donetsk, e como os soldados russos os trataram "como animais".
Quando o soldado ucraniano Mikhailo Dianov foi libertado da detenção russa, a sua fotografia chocou o mundo. Em entrevista ao jornal britânico
SkyNews, o homem contou, pela primeira vez, como foram os meses em que esteve preso no que chamou um "campo de concentração russa".
Mikhailo foi capturado pelos russos nas semanas seguintes à tomada da cidade de Mariupol, em maio. "Depois de um mês à fome, quando fechávamos os olhos, esquecíamos a nossa família, o nosso país, tudo. A única coisa em que pensávamos era em comida", disse Mikhailo à SkyNews.
Mikhailo perdeu 40 quilos nos quatro meses como prisioneiro de guerra. "Era impossível comer. Era-nos dado 30 segundos para cada refeição", contou o ex fuzileiro. "Em 30 segundos tentávamos comer tudo o que podíamos. O pão era muito duro. Os prisioneiros a quem tinham sido arrancados os dentes não conseguiam comer a tempo. Trataram-nos como animais".
À
SkyNews, Mikhailo revelou que os prisioneiros eram constantemente "espancados com paus, sofreram choques eléctricos e tiveram agulhas espetadas debaixo das unhas".
Imagens de satélite revelaram que a disposição da prisão de Olenivke tinha conotações de campos de concentração, com blocos em fila onde os prisioneiros estavam alojados. Mikahilo referiu que os blocos foram concebidos para 150 pessoas, mas que em cada um estavam cerca de 800 prisioneiros.
Antes de ter sido capturado, Mikhailo tirou uma fotografia onde mostrava uma ligadura no braço direito, que estava partido. Durante o tempo em cativeiro, o osso sarou em semicírculo, devido à falta de cuidados médicos. Agora precisa de ganhar 20 quilos antes de poder fazer uma cirurgia corretiva ao braço.
Quanto ao dia em que foram libertados os 215 prisioneiros, Mikhailo relembrou o momento: "Despiram-nos e deixaram-nos completamente nus. Revistaram-nos e depois mandaram-nos agachar e ficámos assim durante cinco horas. Ficámos à espera. Não sabíamos o que nos ia acontecer".
Os prisioneiros viajaram durante 36 horas, com os olhos tapados com fita adesiva. Passaram de autocarro, para avião, para autocarro outra vez. Só depois da fita ter sido removida é que Mikhailo percebeu que estava de volta à Ucrânia.
"Estamos todos traumatizados", disse, "considero-me uma pessoa mentalmente forte, mas para mim muitas coisas perderam o valor".