Fazer do marido campeão europeu foi a única coisa que Anabela Mateus, que morreu na terça-feira, aos 63 anos, e foi sepultada na quinta-feira, não conseguiu no Europeu de França disputado 30 anos antes de Eder garantir, nesse país, e também contra os anfitriões, o primeiro grande título de Portugal.
As fintas de Chalana não bastaram para derrotar os gauleses na meia-final de 1984, e ainda que Anabela sofresse na bancada do Vélodrome de Marselha pelo marido, tinha consciência de que ajudara a garantir nova vida para o casal.
Ao longo de todo o Europeu, Anabela fez-se notar por mais do que o cabelo louro. Fonte privilegiada da imprensa portuguesa e francesa, e autora de crónicas para o ‘Record’ e ‘A Bola’, ajudou a fazer de Chalana um pioneiro nas grandes transferências do futebol português. ‘Chalanix’, alcunha que o barreirense ganhou no Bordéus, pela sua altura e bigode fazerem lembrar Astérix, permitiu ao Benfica fechar o terceiro anel do Estádio da Luz, graças à entrada de 300 mil contos (1,5 milhões de euros) enquanto o extremo pôde finalmente elevar o salário ao valor que a sua mulher nunca deixava subestimar.
Desse casamento resultou um dos dois filhos de Anabela, mas já depois do regresso a Portugal, ao fim de três anos cheios de lesões, divorciaram-se, por entre muita polémica.
Nascida em Abrantes, onde foi expulsa de um colégio de freiras pela rebeldia, Anabela conheceu Chalana no Barreiro, onde viveu. Depois do divórcio trabalhou na produção de programas de televisão. Lutava há vários anos contra o cancro, que matou na terça-feira uma mulher, ontem sepultada no cemitério da Guia, em Cascais, sem igual no futebol português.