Dezenas de milhares de pessoas em fuga após ataques terroristas no norte de Moçambique
Ofensiva sobre Palma agravou a situação trágica que mantém 700 mil refugiados ameaçados pela fome e pela doença.
Francisco J. Gonçalves31 de Março de 2021 às 08:29
Uma mãe amamenta o filho de um ano, que foi ferido a tiro durante a fuga aos jihadistas que atacaram a vila de Palma, na província de Cabo Delgado
FOTO: Lusa
O ataque de radicais islâmicos iniciado na passada quarta-feira em Palma agravou uma situação de verdadeira tragédia na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Agências humanitárias da ONU falam de mais de 700 mil deslocados, cerca de metade crianças, a viver em situação de fome. Durante dias seguidos a sobrevivência é garantida somente pela ingestão de plantas e bagas silvestres.
“É uma verdadeira catástrofe humanitária”, afirmou Lola Castro, diretora regional do Programa Alimentar Mundial (PAM), adiantando que “as pessoas fugiram em todas as direções” ante o avanço sobre Palma de um grupo radical islâmico ligado ao Daesh.
Milhares de pessoas fugiram para o mato ou refugiaram-se junto às estruturas de prospeção de gás em Afungi. “Há também pessoas em fuga para a Tanzânia, para Pemba, via barco, e para oeste, para os distritos de Mueda e Montepuez”, refere o gabinete da ONU para assuntos humanitários (OCHA).
O apoio às populações é dificultado pelos combates que alastram a uma zona cada vez mais vasta de Cabo Delgado e pela falta de meios das agências humanitárias. Desde que, em dezembro, a ONU pediu ajuda para Cabo Delgado, os doadores só deram 10% dos 216 milhões de euros solicitados. E com o ataque a Palma as necessidades são agora muito superiores. Além de alimentos básicos como arroz, milho ou feijão, faltam também roupas, abrigos e medicamentos.
Não há números rigorosos, mas o ataque a Palma fez dezenas de mortos. Os próprios rebeldes afirmam ter matado 55 pessoas, sete delas na emboscada de sexta-feira a uma caravana de veículos com trabalhadores estrangeiros. Lionel Dyck, que coopera com o governo de Moçambique, conta que os helicópteros da sua firma foram alvejados quando tentavam salvar vítimas da emboscada.