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DEZ ANOS DE PRISÃO PARA EURICO GUTERRES

O Tribunal Especial dos Direitos Humanos da Indonésia condenou ontem Eurico Guterres, o ex-líder da milícia pró-integracionista timorense, a 10 anos de prisão por abusos cometidos em 1999. Sem remorsos, o arguido afirmou ter sido traído pelas autoridades de Jacarta e anunciou que vai recorrer da sentença, pelo que vai ficar em liberdade.
28 de Novembro de 2002 às 00:15
‘Os juízes consideram o arguido culpado de graves violações dos direitos humanos e de crimes contra a Humanidade’ – justificou o juiz Herman Hutapea, adiantando que o discurso proferido pelo ex-líder da milícia Aitarak antes do ataque à residência do dirigente timorense Manuel Carrascalão, há três anos, criou um sentimento de vingança e um desejo de matar apoiantes da independência de Timor-Leste.

O julgamento de Eurico Guterres, de 28 anos, foi dominado exactamente por este ataque, em que morreram 18 pessoas, incluindo o filho de 16 anos de Manuel Carrascalão, que entregou à Polícia uma cassete de vídeo em que estava gravado o discurso de incitação ao ódio feito por Guterres.
Segundo a Lei indonésia, a pena máxima para este tipo de crimes é a condenação à morte, mas a Acusação pedira apenas 10 anos de prisão.

Como anunciou a sua intenção de recorrer desta sentença, Eurico Guterres, que não manifestou qualquer emoção ao ouvir a sentença, ficará em liberdade até que o tribunal se pronuncie sobre o recurso. Como sempre, o ex-líder da milícia Aitarak, que lançou o terror em Timor, assumiu uma postura arrogante. ‘Nunca tenho remorsos pelo que fiz. Mas se soubesse que tentar evitar a separação da Indonésia me levaria para a cadeia, não teria feito isso’ – afirmou Guterres, dizendo-se traído por Jacarta.

Eurico Guterres é apenas um dos 18 arguidos, na sua maioria militares indonésios, acusados de actos de violência em Timor-Leste.
Até agora, aquele tribunal especial somente condenou duas pessoas, ambos timorenses, tendo ilibado seis indonésios, incluindo o antigo comandante da Polícia e vários oficiais militares e policiais.

CARRASCALÃO INSATISFEITO

Manuel Carrascalão declarou-se “totalmente insatisfeito com esta sentença”, que considerou demasiado leve. Para aquele dirigente timorense, Eurico Guterres “devia ser fuzilado ou enforcado”.

“Lamento bastante que um criminoso destes não seja fuzilado ou enforcado. Desgraçados como o meu filho Manelito, com 16 anos, e os outros 17 refugiados não fizeram mal a ninguém. Ele não tem perdão” – afirmou, revoltado, Carrascalão.
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