No novo relatório do painel mundial de cientistas e ativistas - que prevê que os limiares críticos para ecossistemas e seres humanos sofram um aumento de dois ou mais graus -, a frequência de ondas de frio e dias de neve diminui na Europa, em todos os cinco cenários traçados e em todos os horizontes temporais.
Apesar da "forte" variabilidade interna, as tendências observadas nas temperaturas médias e extremas na Europa não podem ser explicadas "sem ter em conta os fatores antropogénicos [causado ou originado pela atividade humana]", realça a principal organização que estuda as alterações climáticas desde 1988.
Antes da década de 1980, o aquecimento provocado pelos gases com efeito de estufa era compensado, em parte, com as emissões antropogénicas de aerossóis, precisa o IPCC.
A redução da influência dos aerossóis nas últimas décadas deu lugar a uma tendência positiva observável na radiação de onda curta, acrescenta.
As observações apresentam um padrão sazonal e regional "coerente" com o aumento previsto das precipitações no inverno, no Norte da Europa, prevendo-se uma diminuição das precipitações no verão, no Mediterrâneo, que se estenderá às regiões do Norte, e um aumento das precipitações extremas e das inundações com níveis de aquecimento global superiores a 1,5 graus em todas as regiões, exceto no Mediterrâneo.
Independentemente do nível de aquecimento global, o nível do mar subirá em todas as zonas europeias, exceto no Mar Báltico, a um ritmo próximo ou superior ao nível médio global.
Os autores do estudos antecipam ainda que as mudanças continuem após 2100 e que os fenómenos extremos do nível do mar sejam mais frequentes e mais intensos, provocando mais inundações costeiras e o recuo das costas arenosas.
O relatório prognostica uma forte redução dos glaciares, do permafrost (tipo de solo que se mantém permanentemente gelado), da extensão da capa de neve e da duração sazonal da neve nas altas latitudes/altitudes.
Segundo o IPCC, a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases com efeito de estufa.
No novo relatório, que saiu com um atraso de meses devido à pandemia, o IPCC considera cinco cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance.
Os cientistas constatam ainda que os efeitos do aquecimento global vão perdurar "séculos ou milénios" e resultam "inequivocamente" de responsabilidade humana.
O relatório divulgado esta segunda-feira, focado na vertente científica das mudanças climáticas, será complementado em 2022 por dois outros estudos, realizados por grupos de trabalho do IPCC, um centrado na adaptação das sociedades e outro nas medidas de mitigação.
Os três servirão o sexto relatório do IPCC, previsto para a segunda metade de 2022.
O estudo, elaborado por 234 autores de 66 países, foi o primeiro a ser revisto e aprovado por videoconferência.