Não há palavras que castiguem os malefícios que o Daesh praticou, durante quase seis anos, em Alepo, na Síria. Ainda por cima com a cumplicidade da Rússia de Putin, e o silêncio pechisbeque de outros países. Nunca o vocabulário desta gente esteve tão próximo e a transversabilidade das suas práticas políticas tão comuns como agora. A afronta atingiu milhares de pessoas, e também nunca o chão sagrado de Alepo foi objecto de vandalismo tamanho. A União Europeia deu, uma vez mais, provas da sua insensibilidade tacanha, e o crime hediondo, prolongado dos mecanismos já presentes, em outras circunstâncias, pelo Daesh, obteve o silêncio miserável dos vinte e sete países que a compõem.
Alepo é um território sagrado, e a história do seu chão e das suas pessoas é mais longa do que a história do cristianismo. Sei muito bem, por as ter estudado e, em alguns casos, nelas ter participado como correspondente, que nenhuma guerra tem vencedores: sempre vencidos - e que quem sofre são sempre as classes mais baixas. Poucas coisas se alteram para aqueles que pouco ou nada tiveram, a não ser o infortúnio e a morte.
O que acontece na Síria e, no caso corrente, em Alepo, é o desmando de um tirano, Bashar Al-Assad, que as circunstâncias históricas converteram num santo de pau carunchoso, e que não passa do responsável pela morte de milhares e milhares de concidadãos. O silêncio da Europa e de outras comunidades obedece, isso sim, ao jogo de interesses e ao escantilhão de corrupções de que dirigentes políticos são amplamente responsáveis. O que ocorre, neste momento, na União Europeia e nos silêncios criminosos que a compõem, permite que, por exemplo, o Daesh só agora tenha sofrido as consequências do seu percurso de tragédias. E que a Rússia de Putin continue a ser o senhor da guerra, ante a passividade cúmplice das outras nações. A ignomínia está à vista.