Há qualquer coisa de trágico e de vulnerável nesta roda do tempo. Tudo parece inclinado ou, pelo menos, muitas coisas parecem encaminhadas para um absurdo esquecimento. A hierarquia do dinheiro, o desaparecimento de valores essenciais, o esquecimento daqueles que marcaram o tempo, estão na ordem do dia.
E, no entanto, é preciso não permitir que o efémero se transfira para o essencial; que o poder do dinheiro não ofusque a dignidade individual de cada um. Os recentes episódios ocorridos na Caixa Geral de Depósitos, o conhecimento das importâncias atribuídas como ‘vencimentos’ aos seus administradores elevam-se ao nível da indignidade.
Entretanto, a Imprensa portuguesa foi caminhada por pessoas de baixa classificação moral e profissional. O que, mesmo durante o fascismo santa-combadense, era entendido como afronta, as suas consequências tornaram-se aparentemente ‘normais’.
Dinheiros turvos e gente inclassificável tornaram-se proeminentes numa sociedade que se degradou e se deixou arrastar para um tempo dúbio e inquietante. As televisões são o que são, tornadas numa amálgama de imbecilidades, com a proeminência do futebol tido e interpretado como pão para toda a jornada.
A pátria de Herberto Hélder, de Carlos de Oliveira, de Alexandre O’Neill é uma mascarada sem sentido e agravada. Há um grande vazio cultural, notoriamente embalado e acarinhado por quem detém o poder e é relapso ao conhecimento das coisas fundamentais.
A que propósito servem os programas de televisão destinados a quem e a quê? Perdeu-se o sentido da crítica e a noção de que o país é uma massa confusa de resignados sem ofensa. Portugal caminha em que sentido e em que direcção? Qual é o valor deste silêncio? A submissão a uma tirania qualquer admite e pressupõe a quebra e a morte de todo o sentido de liberdade. Não o esqueçamos.