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Boss AC

'Tás como queres

Nem eu sou americano, nem estou milionário.

Boss AC 2 de Agosto de 2015 às 00:30

Há dias, depois de eu estacionar em frente a uma pastelaria, ao sair do carro, um rapaz que me reconheceu disse-me assim: "Boss, ‘tás como queres!"

Acenei, sorri e continuei com a minha vida. O que ele quereria dizer com aquilo? Seria por ter um carro recente? Não me posso queixar. Tenho um bom carro. Mas tenho que trabalhar para o pagar, caso contrário fico a pé.


No entanto, no ano passado e durante alguns meses, fiquei sem carro e andei com um carrito velho emprestado por um amigo. O carro levava-me do ponto A ao ponto B. De dois em dois dias tinha que chamar o reboque. Mas levava-me do ponto A ao ponto B. Tinha auto-rádio mas não tinha colunas. Passei meses a assobiar.


Um dia, fui cortar o cabelo e estacionei em frente à barbearia. Quando entrei, um dos barbeiros disse-me assim: "Andas com essa lata velha para disfarçar, né? ‘Tás como queres!"


Ou seja, ande eu num carro feio e velho ou num carro bonito e novo, a diferença é nula. Estou como quero. As pessoas automaticamente associam o ser conhecido com o ser rico.


Um artista internacional norte-americano que proporcionalmente tivesse tido um sucesso equivalente ao que tive, por exemplo, com o ‘Sexta-feira’ estaria milionário. Mas nem eu sou americano, nem estou milionário. Internacional? Sim, já actuei em Badajoz.

A vida de músico é bem menos cor-de-rosa do que o mediatismo pode fazer crer. Toda a gente gosta de música. Muito poucos gostam de pagar por ela. Toda a gente quer borlas.


Como diz um amigo meu: "Músico é o gajo que mete cinco mil euros de material no seu carro de quinhentos euros para ir ganhar cinquenta euros."


Considero-me uma pessoa de causas e tenho abraçado várias ao longo dos anos. Mas se aceitasse todos os convites que me fazem para tocar de borla, acabo a organizar um concerto de solidariedade para mim. Por vezes, é difícil as pessoas perceberem que a música é o meu trabalho. Eu pago os meus impostos. E é com ela que me sustento. O ter "fama" não me paga conta nenhuma. O que paga as contas é o meu trabalho.

Bem que dava jeito chegar ao balcão do banco, ser reconhecido e dizerem-me algo do género: "Olá sr. Boss AC (soa estranho, não soa?)! Não precisa pagar a prestação mensal do seu empréstimo. Aliás, os meus filhos gostam tanto de si que até vou fazer melhor: vou aqui ao computador apagar a sua dívida e fica tudo liquidado. Posso tirar uma selfie consigo?"


Mas agora que penso nisso, eles até têm razão. Enquanto houver saúde para trabalhar e viver tranquilo a fazer o que gosto, estou mesmo como quero.
crónica Boss AC
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