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Carlos Moedas

Ciência, Criatividade e Cancro

Os grandes cientistas têm a imaginação de um Picasso ou de um Pessoa. Desbravar fronteiras da ciência requer poder criativo.

Carlos Moedas 8 de Fevereiro de 2019 às 00:30
Quando pensamos num cientista não o associamos à criatividade do artista. Imaginamos alguém de bata branca, à volta de uma amostra, com um microscópio à sua frente, observando com calma e rigor analítico.

Mas quando olhamos mesmo de perto para o processo que levou às grandes descobertas da humanidade vemos que os grandes cientistas têm a imaginação de um Picasso ou de um Pessoa. Desbravar as fronteiras da ciência requer um poder criativo ímpar: combinar conceitos, como quem combina cores ou palavras; imaginar o que hoje não existe e o que ninguém consegue conceber.

Sempre me fascinou a proximidade da arte com a ciência e já aqui escrevi sobre grandes cientistas que são também grandes músicos ou pintores.

Vem esta reflexão a propósito do Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, no passado dia 4 deste mês, e de uma das mais promissoras avenidas para a cura do cancro: a imunoterapia.

Aqui está mais um exemplo da ciência a explorar caminhos totalmente novos e criativos. Os tratamentos convencionais contra o cancro implicam uma intervenção com algo que vem de fora (ex.: um químico) que ataca as células cancerígenas, com os graves efeitos secundários que conhecemos. A imunoterapia vai por um caminho totalmente diferente: usa o sistema imunitário do doente para que seja este a combater o cancro.

James P. Allison e Tasuku Honjo ganharam o Prémio Nobel de 2018 precisamente por esta descoberta. Já se sabia que umas células do sistema imunitário (T-cells) tinham a capacidade teórica de combater o cancro.

Mas eram pouco ativas pelo que nada eficazes. Allison teve uma intuição genial: percebeu que a solução óbvia de estimular as células estava errada. A solução era eliminar um ‘travão’ externo que as inibia. Foi por um caminho diferente, menos percorrido, menos lógico, mas mais criativo.

Quando a Fundação Nobel lhes atribuiu o Prémio Nobel, decidiram usar também a arte para ilustrar este grande contributo para a humanidade. O membro do júri explicou à assistência que uma T-Cell era como uma melodia tocada por um só instrumento: bonita, mas com pouco impacto.

Nesse momento ele parou o discurso e a orquestra entra em ação: o violinista toca, pianissimo, uma breve melodia. Retomou o discurso e explicou como estes dois cientistas conseguiram ‘libertar’ as T-cells, desinibindo-as e dando-lhes força para combater o cancro. E aí a orquestra explodiu numa sonora e ruidosa abertura da Carmina Burana. A arte e a ciência, a ciência e a arte: sempre lado a lado para o bem da humanidade.

Bastidores
A música europeia
Depois de mais uma semana de viagens tive um encontro inesperado e de certa forma extraordinário. Há muitos meses que estava para me encontrar com um dos nossos grandes cantores clássicos, o Maestro Jorge Chaminé. É um homem invulgar, não só pela sua arte e a sua voz, mas pelo projeto que está a desenvolver: o Centro Europeu da Música.

Jorge Chaminé diz que a música clássica é de tal forma parte da nossa identidade europeia que lhe chama "música europeia" em vez de "música clássica".

A música é o laço que une os nossos valores e a nossa diversidade. Nessa reunião contou-me que a Nona Sinfonia de Beethoven começa com uma melodia que faz lembrar os instrumentos da orquestra a afinar, para terminar com o ‘Hino à alegria’, adotado como hino da Europa. É quase uma metáfora para os tempos que vivemos hoje: se é certo que a diversidade europeia gera alguma cacofonia, não podemos esquecer a harmonia que conseguimos alcançar com o projeto europeu.

A música é o cimento da criatividade europeia e por isso devemos apostar na centralidade da música na construção da nossa identidade europeia e por isso deixo aqui o meu apoio ao projeto do Maestro Jorge Chaminé.

Ajuda humanitária para a Venezuela
Perante a grave crise socio-económica na Venezuela, a Comissão Euro- peia atribuiu uma assistência humanitária adicional de 5 mi-lhões de € para ajudar os mais necessitados, que acresce ao valor total de 34 milhões de € já distribuído em 2018. Para levar a assistência, a UE abrirá um gabinete em Caracas.

Itália em recessão económica
A economia italiana entrou oficialmente em recessão econó-mica a par do abrandamento da atividade industrial. Bem sei que as refor-mas demoram a surtir efeitos, mas os mercados já temem o pior com os juros associados à dívida (a mais elevada da UE) a dispararem. Os mercados gostam de estabilidade, algo raro no governo italiano.

95%..
... das crianças e jovens euro-peus (com menos de 16 anos) apresentam um estado de saúde geral considerado como bom ou muito bom em 2017. Apenas 1% é considerado como mau ou muito mau. De acordo com estes dados, Portugal tem uma taxa de 90,2%. Lamentavelmente é o valor mais baixo da União Europeia.

Uma Europa que...
... se mantem
Unida a 27 para recu-sar a renegociação do acordo Brexit. Theresa May recebeu um mandato para re-jeitar o ‘NO deal’ e voltar à mesa das negociações. Bara-lha, dá de novo mas continua com o mes-mo jogo na mão. A UE é clara e não faz bluff. Faltam menos de dois meses para o Brexit.
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