Barra Cofina

Correio da Manhã

Colunistas
Piloto morre em corrida de motos no Estoril

Edgardo Pacheco

E agora sangra-se leitão ou vitelo?

Matar um animal num congresso não revela respeito. Revela, isso sim, desejo de espetáculo.

Edgardo Pacheco 24 de Novembro de 2017 às 00:30
O chefe Marco Gomes matou um cabrito num encontro de cozinheiros em Lisboa. Não à vista da assistência, mas por debaixo da mesa. Já o exercício de esfolar o animal e retirar-lhes os miúdos, esse sim foi feito à vista de todos.

Sei bem o que é matar galinhas, porcos e vacas. Sei bem o que é arpoar peixe de toda a espécie e feitio. E também me preocupa a ignorância das novas gerações sobre a origem dos alimentos. Mas também sei que, neste caso, o que está em causa não é a educação dos consumidores para a importância dos produtos genuínos. O que está em causa é a necessidade doentia de transformar a todo o custo a gastronomia num espetáculo ridículo. Neste universo dos congressos é ver quem tem a ideia mais louca, mais disruptiva e, claro, mais chocante, porque, caso contrário, o chefe passará despercebido no meio da turba. Isso, nos dias que correm, é mau para o negócio.

Marco Gomes - cozinheiro transmontano que aprecio - necessitava de matar um cabrito em local impróprio para falar da carne enquanto produto das nossas serras que merece ser defendido? É óbvio que não. Mas, lá está, se tivesse preparado um arroz com os miúdos do bicho vindos de um talho, não seria falado. Agora, sim. Até a ASAE lhe deu atenção.

O que é patético em tudo isto é que nem somos originais. Em 2013, esse xamã que é Alex Atala matou uma galinha em direto. Foi o máximo. Até então, ninguém imaginava que se puxava o pescoço às galinhas.

Mas ainda mais patético é eu sentir que muita gente que aplaudiu Marco Gomes já está à espera de outro encontro de chefes para assistir à matança ao vivo de um leitão ou de um vitelo. Exagero meu? Olhem que não.
Edgardo Pacheco opinião
Ver comentários
C-Studio