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Eduardo Cabrita

A Voz do Povo

À esquerda abrem-se novos horizontes de relacionamento com modelos variáveis.

Eduardo Cabrita 22 de Outubro de 2015 às 00:30
Escrevo sem saber como Cavaco Silva deu cumprimento ao seu poder constitucional de nomear o primeiro-ministro "ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais". Uma vespertina comunicação ao País poderá ter já desatualizado este escrito.
Os acontecimentos ocorridos desde 4 de outubro tornam irreversível a chegada da democracia portuguesa a uma idade madura em que todos os votos e partidos são iguais em legitimidade e responsabilidade. Numa democracia plena, todos os mandatos parlamentares são decisivos e a morte do "arco da governação" acaba com o mito orwelliano de que alguns partidos mandam e outros têm direito a protestar.

A iniciativa política lançada por António Costa e a, para muitos surpreendente, disponibilidade dialogante do BE e do PCP , independentemente dos resultados de curto prazo na formação do próximo Governo, representam o fim da assimetria do nosso sistema político que levou a que se criasse durante 40 anos a ideia da existência de um direito natural da direita a governar ou a influenciar decisivamente as opções governativas.

Desde 1979, exceto no mandato de maioria absoluta do PS, o PSD esteve sempre no poder ou foi decisivo na aprovação dos orçamentos e no condicionamento das políticas económicas. O PCP e, mais recentemente, o BE deixaram-se acantonar no conforto de forças de protesto. O PS, se ousou furar o "arco constitucional" ao integrar o CDS de Freitas na governação, nunca fora capaz (salvo em Lisboa) de superar os traumas do PREC e liderar o diálogo à esquerda.

A partir de agora, a direita sabe que perdeu o poder de chantagem sobre o PS resultante da inexistência de possibilidade de entendimentos à esquerda e que só a maioria absoluta os legitima para aplicar programas de conflito com o consenso social de quatro décadas de democracia.

À esquerda, perdida a virgindade traumatizada dos filhos do PREC, abrem-se novos horizontes de relacionamento com modelos de compromisso variáveis que deixam de condenar os portugueses ao pântano do centrão dos interesses.

Não será fácil o trabalho em comum na nossa esquerda, sobretudo confrontados com os desígnios da opção europeia e o espartilho da zona euro. Mas existe todo um caminho de afirmação da dignidade do trabalho e da igualdade de oportunidades para percorrer. A Cavaco basta ser coerente na sua defesa de soluções governativas maioritárias e ouvir a voz do povo que lhe deu uma nova maioria para governar.
opinião Eduardo Cabrita
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