As últimas semanas foram marcadas pelo debate das propostas do PS para o próximo ciclo governativo. A maioria governamental em fim de ciclo está desde abril atarantada a tentar correr no seu deserto de ideias atrás do prejuízo, tentando sair em contra-ataque de forma a contrariar a liderança da agenda política pelo Partido Socialista.
Primeiro foi o chamad o documento dos 12 economistas, que, ao inovar na aceitação por um partido da sujeição das suas propostas políticas a um quadro macroeconómico definido por economistas maioritariamente independentes, veio alterar os termos do debate político.
Sem alternativas credíveis, para além do Plano de Estabilidade enviado a Bruxelas prometendo a perpetuação da austeridade até 2019, a resposta possível foi o apressado anúncio da renovação dos votos do casamento de conveniência entre PSD e CDS como coligação eleitoral, amparando noivos desconfiados mas temerosos dos riscos de um naufrágio solitário. Mas em dois meses nada aconteceu…
O PS voltou a surpreender com um projeto de programa eleitoral sujeito a debate público, incluindo o escrutínio online entre alternativas para resolver algumas das questões mais delicadas. Voltou a preencher o espaço público em torno da alternativa, colocando o Governo na defensiva, esbracejando pela sobrevivência e conjurando histórias de terror sobre os riscos de uma mudança política no outono.
A iniciativa ficou reduzida à correria desenfreada para fechar decisões irreversíveis como a venda da TAP, a privatização do Novo Banco ou a recondução de Carlos Costa até 2020.
Mas eis que surge o sinal de luz sobre os desígnios futuros com o anúncio para esta semana das Linhas Gerais do Programa Eleitoral PSD/CDS. A coisa era pobre, alinhavada em meia dúzia de páginas de generalidades em letra gorda e espaços largos tipo relatório sobre a Reforma do Estado, mas a divulgação na mesma hora do plano de fuga pela Segunda Circular de Jorge Jesus da Luz para Alvalade reduziu Passos e Portas à absoluta irrelevância mediática.
Estranho país este em que meio milhão emigra, mais de 30% dos jovens estão desempregados e licenciados aspiram por estágios de 600 euros mas em que o único tema é a OPA por seis milhões/ano feita pela escola do BES sobre um técnico de bola…