A greve dos pilotos insere-se na linha de agitação de um setor em ebulição.
O setor do transporte aéreo tem sido dos mais afetados nos últimos anos por vagas violentas que alteraram radicalmente as regras do jogo e os parceiros sobreviventes numa guerra total. Da emergência das companhias low-cost ao aparecimento de novas companhias globais que mudaram radicalmente os hubs do longo curso, tudo levou a que velhos monstros como a TWA, a PAN AM, a VARIG ou a SWISSAIR sucumbissem e que improváveis fusões emergissem dos dois lados do Atlântico.
Ainda esta semana, as três maiores companhias americanas questionavam os apoios de Estado às novas vedetas do longo curso baseadas no Golfo Pérsico e na Turquia no ano em que simbolicamente Dubai superou Heathrow como maior aeroporto de trânsito internacional.
No meio de tudo isto um Governo centrado na obsessão orçamental, fundamentalista na cartilha liberal e com ódio a tudo o que pareça intervenção do Estado é um agente perigoso para a TAP e para Portugal no meio da tempestade.
Num negócio em que a Boeing, a AIRBUS ou a Emirates são questões de Estado prioritárias na ação dos Governos, uma linha pautada pela adoração bacoca, pela clarividência dos mercados e pelas receitas das privatizações tem riscos insanáveis para a capacidade estratégica de Portugal ter uma palavra nos mercados globais.
Um Governo que saudou a destruição da CIMPOR, que rejubilou com os crimes de mercado que levaram ao ocaso da PT e que transferiu empresas nacionais para empresas públicas de outros Estados ou criou o único monopólio privado de gestão de aeroportos em toda a Europa não tem moral nem legitimidade política para privatizar a TAP à beira de eleições.
A greve dos pilotos insere-se na linha de agitação de um setor em ebulição que provocou nos últimos anos inúmeras greves na IBERIA (hoje dependente da BA), na Air France e sobretudo na Lufthansa. A paz social da TAP é perturbada pela linha de terrorismo económico seguida pelo Governo que provocou a guerra de trincheiras corporativa dos pilotos.
Como é que um Governo sem linha de ação e que já desistiu de legislar só tem como absoluta urgência tornar irreversíveis negócios que dividem os portugueses? É assim na TAP, nos transportes de Lisboa e Porto ou nas águas e resíduos. Como faz falta um Presidente a sério...