O Papa Francisco deu uma entrevista ao jornal argentino ‘La Nación’. Nela aborda sobretudo questões que interessam aos leitores do seu país. Rejeita ter um relacionamento tenso com o presidente argentino. E fala da polémica receção no Vaticano de uma das mães da Praça de Maio, que no passado criticou duramente o então cardeal Bergoglio.
A entrevista coincidiu com a celebração dos 65 anos de ordenação sacerdotal de Bento XVI. Por isso, deste lado do Atlântico, o que mereceu maior destaque foi a forma carinhosa como o Papa se referiu ao seu antecessor e como classificou a sua renúncia.
"Foi um revolucionário (…). É de louvar o seu desprendimento. A sua renúncia expôs todos os problemas da Igreja. A sua abdicação não teve nada que ver com nada pessoal. Foi um ato de governo, o seu último ato de governo", disse o Papa acerca de Bento XVI. Quando ainda perdura na opinião pública (e na publicada...) a imagem conservadora e até retrógrada do cardeal Ratzinger, é o próprio Papa que o considera um pontífice avançado.
Mas, mais relevante do que isso, foi ter destacado a principal virtualidade da sua resignação: o seu desprendimento obrigou a Igreja a confrontar-se com a podridão que campeava no seu interior. Esse tratamento de choque não só permitiu o advento de Francisco, como facilitou a sua intervenção em ordem à reforma da Cúria Romana e da Igreja no seu todo.
Com estas palavras de Francisco, a histórica resignação de Bento XVI ganhou um novo sentido. Mais do que uma desistência, ou o reconhecimento de uma incapacidade para promover a reforma, trata-se de um verdadeiro ato promotor da renovação da Igreja.
A forma como o Papa Francisco trata e considera o seu antecessor e o modo como este tem exercido a sua condição de Papa emérito dizem bem da enorme estatura destes dois homens. Em vez de se atrapalharem, apoiam-se e promovem-se reciprocamente.