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Fernando Ilharco

O aperto de mãos

É o cumprimento mais comum da actualidade, o passou-bem entre pessoas que se saúdam.

Fernando Ilharco 12 de Fevereiro de 2017 às 00:30

É o cumprimento mais comum da actualidade, o passou-bem entre pessoas que se saúdam. Mas também é um ritual de comprometimento entre duas pessoas que combinam os termos de um contrato, que fixam uma transacção ou que simplesmente se põem de acordo quanto a comportamentos futuros. Aperta-se as mãos, abanando-as ligeiramente, umas duas ou três vezes; há ocasiões, quando o acordo foi difícil, em que se abanam as mãos quatro, cinco ou mais vezes, como que mostrando que não se soltam, que o entendimento é firme.

No ‘passou-bem’, as duas mãos tocam-se, apertam-se, enquanto perguntamos ‘como tens passado’? O toque das mãos e a pergunta aproximam mais do que um bom dia, à distância. Mas porquê o ‘passaste bem’? Porquê o toque? Porque o tacto aproxima as pessoas – tocam-se – e porque a pergunta vai no mesmo sentido. Como tens passado? Ou seja, espero que tenhas passado bem. Por vezes diz-se ‘estamos juntos’, que é o que fazem as mãos no aperto de mãos. Mais do que físico, evidentemente, o que pesa é o simbólico.

É uma história longa, desconhecida da maioria, mas onde assentam os significados que todos vivemos quando nos cumprimentamos. O aperto de mãos significa não ter nada a esconder. Mãos vazias, com as palmas para cima. Em tempos que já lá vão, as mãos vazias à vista significavam que a pessoa não trazia armas, que não pretendia atacar. Ainda hoje, quando alguém quer mostrar que não esconde nada, que tem boa vontade e boas intenções vira as palmas das mãos para cima. Aliás, o leitor pode experimentar: se virar as palmas das mãos para cima é mais difícil mentir…

Depois de terem ganho estes significados, as mãos abertas deverão ter sido utilizadas como armadilha para chegar juntos de estranhos ou inimigos, mantendo-os desprevenidos. As mãos estavam vazias mas a manga do casaco não estava… Os outros aproximavam-se tranquilos e subitamente das mãos vazias surgia uma espada, uma faca e o ataque seguia-se. Deve ter sido esta a origem da expressão ‘nada na manga’, que obviamente só tem sentido por muitas vezes ter havido alguma coisa na manga...

O aperto de mãos parece ter tido origem nesta dúvida; as mãos abertas vazias, mas e a manga? No cumprimento entre duas pessoas, primeiro apertava-se não as mãos mas os antebraços, para confirmar que não havia nada escondido. Milhares e milhares de anos levaram a que o aperto do antebraço fosse deslizando e chegasse ao aperto de mãos.

As imagens mais antigas do aperto de mãos estão em desenhos em vasos funerários da Grécia antiga, de há 2500 anos, e estão expostas no Museu Pergamon, em Berlim, na Alemanha.  

Antiga ortografia

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