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Fernando Sobral

Surpresa

Loyle Carner é um rapper cujo coração está cheio de memórias da soul.

Fernando Sobral 4 de Fevereiro de 2017 às 00:30
A melancolia é o valor acrescentado de Loyle Carner, que nos traz, neste início de ano, um álbum que parece feito a pensar nestes dias mais frios e chuvosos. ‘Yesterday’s Gone’ revela um novo rapper cujo coração está cheio das memórias da soul.

Ao longo do disco ele fala-nos de muitas coisas que são o centro da sua vida: a família, os amigos, o amor, a dor, a dúvida e a lealdade. Muitos assuntos que normalmente servem para dividir o rap britânico (a que pertence Loyle Carner) e o norte–americano. O tema que abre o disco, ‘The Isle of Arran’, tem um belo coro de gospel e fala-nos da crise de fé nas figuras tutelares de alguém. Canta Carner: ‘there’s nothing to believe, believe me’.

Numa altura em que o grime (uma evolução do jungle e garage de origem britânica) está a renascer, Carner não é um MC típico. A sua forma de expressão é bem mais melodiosa e num dos temas, ‘No CD’, Carner regressa mesmo aos sons básicos de bateria e guitarra que foram muito comuns na década de 1990. Afinal ele é um fã de Madlib ou A Tribe Called Quest, e aqui e ali o disco está cheio de evocações de sons do jazz.

Um dos temas, ‘Ain’t Nothin’ Changed’, está mesmo cheia de referências jazzísticas. Outro dos sinais do fervor familiar de Carner está em ‘Florence’, onde imagina que está a fazer panquecas para uma imaginária irmã mais pequena. É todo este universo, muito peculiar, que faz deste jovem rapper um dos valores seguros a ter em consideração para os próximos tempos. Em tempos de agressividade verbal é interessante surgir um rapper melancólico e emocional.
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