As impressões digitais de Brian Eno modificaram muitas vezes o rumo da música rock. Os U2 que o digam. O seu trabalho nos Roxy Music transplantou-se depois para álbuns seminais de música electrónica e ambiental, isto para já não falar da sua actividade como produtor (basta recordar a trilogia de Berlim de David Bowie) ou a fazer discos que ficaram na história, como ‘My Life in the Bush of Ghosts’ com David Byrne.
Agora ele surge de surpresa, neste início de ano, com ‘Reflection’, o seu novo exercício de música ambiental, que segue o pioneiro ‘Music for Airports’, editado em 1978, e que inaugurou um género musical. Não tem, claro, a ver com a estrutura tradicional dos discos, porque Brian Eno gosta de trocar as voltas aos ouvintes com as suas reflexões musicais.
Depois de no ano passado ter feito um disco mais tradicional como foi ‘The Ship’, este ‘Reflection’ é um longo delírio musical de uma hora seguida. O efeito geral é o de uma música profunda, pacífica, meditativa.
No fundo, Brian Eno parece estar a pintar um quadro, colorindo-o devagarinho. Mas aqui defronta-nos com o outro mundo de Eno: as interferências de software, de algoritmos, que surgem aqui e ali para nos deslumbrar e colocar dúvidas.
Como, por exemplo, colocar-nos perante a terrível ideia de que o software existente pode criar êxitos óbvios, sem que a criatividade humana sirva para algo. Até a carreira dos músicos parece agora estar em perigo devido à automatização e robotização.
Caminhamos para esse temível momento? É disso que Eno nos fala nas entrelinhas deste disco provocador e único.