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Francisco Moita Flores

Abdu de Algueirão

Sem política que gere esperanças e sonhos estamos condenados à multiplicação dos Abdus.

Francisco Moita Flores 21 de Setembro de 2014 às 00:30

Fábio tinha um sonho. Queria ser futebolista. Talvez tivesse mais. Aos 18 anos a gente tem tantos sonhos! Depois há aquela alentejana, uma jovem de metralhadora em punho, e burka, que garante que os criminosos do Estado islâmico a tratam como uma princesa. Estas duas histórias têm feito história na comunicação social, surpreendida, atónita, ao descobrir que uma dúzia de jovens portugueses milita na jihad lançada pelos terroristas do Estado Islâmico. A mediática degola de dois jornalistas por estes bandidos deixou a comunicação social do mundo inteiro em choque. Ao pé do Estado Islâmico, os terroristas da Al-Qaedda são meninos de coro.

Dizem os analistas que são uma turba armada com cerca de trinta mil assassinos. Como se viu em inúmeros vídeos, nada os assemelha a uma organização política e o Islão é tão só o pretexto para uma ténue e vaga fundamentação ideológica e doutrinária. Sabe-se pelas chacinas e atrocidades que têm cometido que não são políticos. Matar a eito, seja quem for, não é próprio da política que ainda assenta os seus combates na velha teoria do inimigo principal. Não são militantes religiosos. O maior contingente das suas vítimas são muçulmanos. Sabe-se que nasceram de uma fação minoritária e radical sunita, porém, hoje, são muito mais do que isso. São um exército de assassinos que têm cometido uma sequência brutal de crimes contra a Humanidade.

Para os ocidentais a pergunta mais incómoda está por responder. O que leva jovens como o Fábio de Algueirão a mudar o nome para Abdu e rasgar os seus antigos sonhos para integrar um exército de assassinos? A resposta mais fácil é a sua origem suburbana. Então e a jovem alentejana com raiz num território tão pobre e minguado de gente que nem subúrbio tem?

A pergunta permanece com o mesmo sentimento de intranquilidade. Onde falharam as políticas europeias para a juventude, no espaço de toda a União, em cada país, para que forneçam milhares de jovens como voluntários para o espetáculo macabro da morte gratuita? O poder dominante não sabe responder a isto. É incompetente na gestão de sonhos e expectativas. Apenas conhece os gráficos da ditadura do economês. E sem política que gere esperanças e sonhos estamos condenados à multiplicação dos Abdus. Este problema não é iraquiano ou sírio. É nosso. 

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