Esta semana, outro recluso aqui em Évora, acamado na sua cela, rogou-me, desesperado, que denunciasse a sua situação prisional e clínica no meu blogue (‘Dos dois lados das grades’) ou neste espaço que disponho semanalmente. Extraordinariamente, o texto do blogue será publicado no mesmo dia da publicação do presente texto, porque trata-se de um exercício de cidadania, de alerta à sociedade.
Autorizando por escrito, o recluso em questão, acamado, algaliado, portador do vírus VIH, vê-se obrigado a expor publicamente a sua situação porque não quer morrer enclausurado numa cela. Não deseja ser mais uma vítima da má gestão de um Diretor que não o envia para um hospital prisional, reclamando o direito inviolável à vida e à dignidade humana.
A exposição que posso oferecer desta triste situação é pequena, mas se o famoso recluso José Sócrates quisesse, poderia ser enorme! O mesmo Sócrates que junto do Diretor deste estabelecimento prisional travou uma batalha épica para usar umas botas, dizendo-me na ocasião que em Diplomacia morre-se por uma vírgula, e as suas botas eram a sua vírgula!
O mesmo Sócrates que "fez uma birra" porque queria dois iogurtes ao pequeno-almoço, e conseguiu; aquele que não gosta de algemas, e sem algemas é transportado!
O Eng. Sócrates que muito deve ao recluso acamado porque foi ele que aprovou o quadro legal que rege as prisões, normativo que permite a existência de verdadeiros tiranetes a gerir estabelecimentos prisionais. O José que quando confrontado com a realidade prisional e as limitações à dignidade dos presos, defendeu-se dizendo que foi ele que acabou com o "balde para as necessidades fisiológicas", existindo agora, graças a si, sanitas!
Apelo à indignação dos portuguesesApelo a todos, indignem-se com a sujeição à indignidade de um concidadão, ainda que preso. Mobilizem-se, o que permitimos que se faça a outrem, fazemos a nós. Como Ronald Dworkin escreveu em ‘Justiça para o Ouriço’: "A ética estuda o modo como as pessoas gerem a sua responsabilidade de viver bem, e a moral pessoal concentra-se naquilo que cada indivíduo deve às outras pessoas."
‘Bófias’ são brutos homofóbicosO Sócrates que quando entrou, pensando agradar, julgando os ‘bófias’ brutos homofóbicos, rudes, confidenciou-me que estava muito sentido com toda a perseguição de que era alvo, dando como exemplo a questão sobre a sua orientação sexual, justificando-se com a aprovação da lei relativamente aos homossexuais, referindo-se a este grupo utilizando expressão que não posso reproduzir!