"José Rodrigues dos Santos é um orelhudo petulante, dizimei-o na RTP!", disse-me Sócrates numa das conversas que tínhamos aqui em ‘Ébola’, a propósito do conflito que teve com o pivô quando fazia comentários no canal público. Contrapus, recordando-lhe que era um jornalista respeitado com ensaios reconhecidos sobre comunicação e crónicas de guerra. Com asco, afirmou: "Vende muito para balzaquianas menopausicas! Ele armadilhou-me as entrevistas mas eu topei-o à légua!", disse o ‘nosso’ José, que tem uma visão muito particular de uma sociedade democrática e sobre liberdade de imprensa.
Aqui em ‘Ébola’, várias portas das celas, por dentro, têm colado o autocolante "não à censura", que vinha com o CM. A propósito, o José apareceu certo dia na minha ala, onde eu estava sentado no banco existente, com outros dois reclusos, a ler o Correio da Manhã. "Muito gostam vocês de ler isso! Deixe-me ver, João", disse, retirando-me o jornal das mãos. Desviou-se, abanou a cabeça em sinal de negação, e, num gesto de raiva, inopinadamente, rasgou o jornal e colocou-o no caixote de lixo que próximo de si estava! Esta é uma das várias ocasiões em que percebemos quem é o verdadeiro Sócrates. Após aquele momento, do mais profundo descontrolo, José desculpa-se: "Perdoe-me João, estes tipos enervam-me, canalhas!". Sócrates tem alergia à verdade, à livre opinião, ao escrutínio público que não é controlado por si.
O José foi um péssimo aluno no seu mestrado em Paris, pode concluir-se, porque Tocqueville, em 1835, dizia sobre a liberdade de expressão: "Para colher os bens inestimáveis que ela garante, é necessário aceitarmos os inconvenientes que ela acarreta". Sócrates só permite o que para si é conveniente. Sócrates diz-se um democrata mas "prega a água e bebe o vinho".
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Vida na cela
"Quem não deve, não teme...": Porque não mostra o José os seus extratos de conta?
Quando sugeri ao José que se defendesse publicamente com provas, e ele se escandalizou com a hipótese, não percebi. Como iriam os média banquetearem-se: haveria muito para falar ou nada para apontar? Fiquei sem saber!
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Em reclusão
Num país democrático todas as notícias podem ser dadas...
Porque, orgulhosamente, vivo num país democrático, quando fui detido e posteriormente preso preventivamente, este jornal e outros órgãos de comunicação informaram a opinião pública sobre o que tinha acontecido com o Inspetor João de Sousa, da Polícia Judiciária...
... e naturalmente é concedido o direito de defesa aos visados
Mais tarde, este jornal e outros órgãos de comunicação permitiram o contraditório e entrevistaram-me aqui em ‘Ébola’, onde me encontro a aguardar julgamento. E hoje escrevo semanalmente para este jornal: isto é democracia saudável, liberdade, sociedade aberta, livre pensamento.