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João de Sousa

Vou calar esta gente

Tenho viva a imagem de um José a espumar de raiva, pedindo desculpa pelos perdigotos que lhe saíram da boca e me atingiram.

João de Sousa 15 de Novembro de 2015 às 00:30
Na quarta-feira passada, terminado o meu "castigo por delito de opinião", voltei ao pátio comum. Era o momento de colocar a conversa em dia. Claro que foi inevitável abordar a última conferência, ‘Justiça e Política sem direito a contraditório’, do ex-recluso José Sócrates.

O sol brilhava, um esplêndido verão de S. Martinho, e alguém referiu: "Viram o ex-primeiro todo janota?" Todos sorrimos e confirmámos. "Recordam-se quando ele começou a andar aqui no pátio com os calções puxados para cima, enfiados no "centro das nádegas" para se bronzear?"

A gargalhada foi geral. De facto o José Sócrates, com as suas perninhas finas e "peito de pisco", como o próprio se descrevia, era visto a caminhar, em gritante contraste com os "tipos do ferro" que acabavam de sair do ginásio. "Recordam-se?" E todos rimos.

Mas eu observei igualmente o discurso das duas "conferências-sem- -perguntas", até agora realizadas pelo ex-recluso José Sócrates, e recordei mais. Recordei que o José sempre afirmou que tudo isto – a "canalhice" – era para prejudicar o Partido Socialista, o que agora repete sempre, assim como tenho viva a imagem de um José Sócrates a espumar de raiva, pedindo desculpa pelos perdigotos que lhe saíram da boca e me atingiram na face, quando lhe li a crónica de Manuel Carvalho (Jornal ‘Público’) no dia 23 de novembro de 2014: "José Sócrates uma luzinha que se apaga […] um ativo tóxico que retira credibilidade a uma parte significativa do atual Partido Socialista".

Na ocasião o José Sócrates disse-me, muito claramente: "Eu vou calar toda esta gente depois!" E, de facto, parece, que está a consegui-lo.


Vozes do pátio
"Ele já não volta mais"
A conversa entre reclusos no pátio terminou com alguém a dizer: "Ele já não volta mais. Não viram? Muita gente gosta dele. A quantidade de gente que apareceu a beijá-lo. Aquilo não pode ser tudo combinado, pois não, Sr. João?" Não respondi, apenas sorri, recordando...

O animal político
Recordei mais uma vez o José: "O político tem de gostar de si, João, e a política é um espetáculo. Quando eu sair você e todos eles vão ver! E eles vão pagar, acredite!" Eu, tudo observei, deleitando-me com a atuação do "Animal político", pensando: "Que grande artista que este tipo é!"

"Diz-me para estar atento ao céu"
Ao recordar todos estes momentos, e consultando os meus ‘Moleskines’, esbarro com o seguinte apontamento: "25 de abril de 2015 – Diz-me para estar atento ao céu e para ouvir, pois iria gostar!"

Sócrates fechado a ver televisão
No 25 de abril de 2015, anoto, pelas 16h00: "Gritaria no pátio. Avião com faixa a dizer "José Sócrates sempre". Ao olhar para a janela da cela de Sócrates vejo que tem a janela fechada. Ouvem-se gritos e cânticos no exterior. Quem está nas celas, bate nas grades. Sócrates fechado não se manifesta.

Às 17h20 quando abrem as celas, o José é abordado por diversos reclusos, perguntam-lhe se viu ou ouviu, se sabia o que se tinha passado. Um Sócrates com uma atitude de Estado, garante: "Não vi nem ouvi. Estava a ver o ‘Polvo’. Não sabia que iam ter esse gesto, as pessoas compreendem a injustiça."
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