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Jorge de Sá

Efeitos das campanhas eleitorais negativas

As eleições da Associação Mutualista Montepio Geral tiveram uma campanha eleitoral sofisticada assente em comunicação de teor fortemente negativo.

Jorge de Sá 9 de Dezembro de 2018 às 00:30

As eleições da Associação Mutualista Montepio Geral tiveram uma campanha eleitoral sofisticada assente em comunicação de teor fortemente negativo onde a distorção da verdade foi um recurso importante de algumas candidaturas, lembrando o poeta Aleixo quando escreveu que "Para a mentira ser segura e atingir profundidade tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade."

A propósito das campanhas eleitorais de teor negativo, num livro que publiquei há cerca de cinco anos, escrevi que para "alguns responsáveis pela organização de campanhas eleitorais … só as mensagens políticas negativas seriam eventualmente capazes de acordar (os eleitores) da sua letargia", despertando-os para uma "vigilância automática".

Nessa mesma publicação escrevi que, para além da apresentação nas campanhas dos resultados positivos obtidos pelos incumbentes, foi ganhando expressão um outro lado das campanhas, "organizado a partir de rigorosos profissionais que cultivam o ‘lado negro’, o espaço do ‘mal’ com recurso à comunicação política negativa, cujos conteúdos integram informações que visam modificar a avaliação dos eleitores em relação a uma determinada formação ou personalidade … num sentido de tornar negativa, ou mais negativa, essa avaliação".

Na recente campanha eleitoral do Montepio, assistimos primeiro à colocação da instituição no centro da discussão, com informações na maioria dos casos "requentadas", que pretenderam colocar o Montepio na ordem do dia (agenda setting) de dos meios de comunicação social mais acessíveis aos estrategas que visavam assim estimular de seguida o interesse de outros meios de comunicação social, credibilizando o conteúdo, via um fenómeno de comunicação a que Bourdieu chamou "a circulação circular da informação".

Há mais de vinte anos, Ansolabehere e Iyengar demonstraram que a negatividade das campanhas conduz, em geral, a um aumento da desmobilização e, em particular, da abstenção eleitoral.

A questão é evidente: em que medida a recente campanha eleitoral negativa do Montepio é responsável pelo aumento significativo da abstenção eleitoral dos associados nas eleições da passada sexta-feira?

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