Fátima nunca fez do milagre um dogma.
Fátima é um milagre do catolicismo popular português, abarcando, sincreticamente, desde as tradições dos "lares" romanos às peregrinações celtas e a formas diversas do animismo europeu.
Há 100 anos a Igreja Católica vivia uma crise profunda, sobretudo depois de ter perdido o estatuto de religião oficial por força da Lei da Separação do Estado das Igrejas que Afonso Costa assinou em abril de 1911.
No contexto, tendo sido Fátima um bálsamo para as dores da Igreja, esta nunca fez do milagre um dogma, não obrigando os seus fiéis a acreditar nas visões de Lúcia. E, apesar de tudo isto, Fátima mantém-se firme no imaginário nacional: hoje 62% dos portugueses maiores de 18 anos acredita que há 100 anos, Maria, mãe de Jesus, apareceu em Fátima.
E se 62% creem no milagre, talvez seja ainda mais confirmativo do caráter eminentemente popular desta crença, o facto de cerca de 2 em cada 5 portugueses (42%) já terem feito pedidos à Virgem de Fátima, que quase todos eles entendem terem sido satisfeitos.
Acresce que metade dos portugueses que não se definem como "católicos praticantes" acredita no milagre e que quase um terço (30%) já fez pedidos à Senhora de Fátima.
A comparação destes resultados com outros com quase 20 anos mostram um efetivo decréscimo da crença, particularmente visível no que diz respeito à não aceitação do feriado nacional a 13 de maio ou na crescente imagem de Fátima como um lugar de comércio em detrimento da representação social da "Terra de Fé".