Señoritas... Começaram por brincadeira sem quaisquer ambições de mercado. "Encontros de gajas", explicava--me há um ano Mitó Mendes quando, com Sandra Baptista, decidiu finalmente começar a falar das experiências musicais que nasciam em casa, entre as duas, quase do nada. "Ou íamos às compras ou púnhamo-nos a fazer umas letras e umas linhas de baixo e de voz".
Entre gins à beira da piscina e histórias de vida que era preciso purgar, entre o punk e uma certa música de raiz portuguesa, entre um quotidiano trivial e um futurismo arrancado à criatividade, entre a rebeldia e o romantismo musical, contra as formatações e as imposições, assim foram nascendo as canções das Señoritas, um dos projetos mais fora da caixa e mais originais a ter surgido nos últimos anos na música portuguesa. Muitos não acreditavam que elas fossem capazes, mas elas lá avançaram.
"Eu acho que não passava pela cabeça de ninguém que alguma vez eu e a Sandra viéssemos a ter uma banda. Há pessoas que nos perguntavam: Mas são só vocês as duas?", diz Mitó Mendes.
Serve isto para dizer que um ano e meio depois de terem lançado o disco de estreia, as Señoritas preparam já o segundo trabalho de originais, um disco que devolve Mitó àquele seu registo vocal único e Sandra Baptista à música que desde o final dos Sitiados, felizmente, nunca deixou de procurar. "Quando os Sitiados acabaram, eu divorciei-me um bocado da música e é ela que tem puxado por mim. Foi o projeto Megafone, A Naifa e agora as Señoritas", lembra Sandra Baptista.
O novo disco deve chegar já no início do próximo ano como mais um registo de afetos, apreço e cumplicidade artística de duas mulheres que têm a amizade como pedra de toque. "Eu ainda sou da velha guarda e para mim só faz sentido gravar música com amigos".